Título: Exportadores de algodão e banana ameaçam
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

Algodão e banana se transformam em tema explosivo na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, os países em desenvolvimento exportadores desses produtos partiram para o ataque contra Estados Unidos e Europa e alertaram que, se uma solução não for dada a suas preocupações, toda a negociação em Hong Kong pode fracassar. Já a França acusou o Brasil de formar um acordo com os americanos e abandonar os produtores de algodão da África. No caso da banana, os europeus irão aplicar uma tarifa de 176 por tonelada do produto que entrar no mercado da UE a partir de 2006, taxa que não é aceita pelos países latino-americanos. Os europeus já perderam dois processos na entidade, que julgou as tarifas elevadas demais.

Durante a plenária da conferência da OMC, governos como o da Costa Rica, Honduras, Panamá e Nicarágua alertaram a entidade de que podem bloquear um entendimento se a UE não revisar suas taxas nos próximos dias. Muitos delegados criticaram a utilidade da OMC, diante da incapacidade da organização de tratar de temas que interessam aos países em desenvolvimento.

Já os europeus voltaram a afirmar que vão aplicar a tarifa já estabelecida. Para Mariann Fischer Boel, comissária agrícola da UE, essa taxa permitirá o acesso da banana latino-americana ao mercado europeu.

Outro tema polêmico é o do algodão. Países pobres da África, como Benin, Chade e Mali, querem o fim dos subsídios americanos ao produto até 2009. Segundo Samuel Amehue, embaixador do Benin na OMC, os americanos realizaram uma série de reuniões com os africanos mas até agora não aceitaram a proposta de corte de subsídios. "A credibilidade da OMC vai estar em perigo se a entidade sair de Hong Kong sem uma decisão sobre o algodão. Os países africanos não poderão aderir a um acordo", ameaçou.

Para Rob Portman, representante de Comércio dos Estados Unidos, o corte de subsídios não trará grandes vantagens aos africanos. Washington prefere cortar tarifas de importação, o que não é aceito pelos africanos. Os americanos teriam dificuldades para cortar seus subsídios, já que o lobby do algodão pressiona o governo e enviou representantes a Hong Kong.

Já a França acredita que o Brasil, que venceu uma disputa contra os americanos no setor do algodão, poderia ser um apoio importante para a luta dos países africanos. A ministra do Comércio da França, Christine Lagarde, achou "estranho" a ausência do Brasil nos debates da tarde de ontem antes da plenária da OMC, insinuando um entendimento entre Washington e Brasília.

Nas ruas de Hong Kong, manifestantes, como agricultores coreanos, protestavam contra a abertura dos mercados e as negociações da OMC.