Título: Novembro deve ter números melhores
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

Primeiros indicadores mostram uma recuperação da atividade econômica em relação a outubro

Os primeiros indicadores antecedentes do ritmo de atividade econômica de novembro mostram uma reversão na queda registrada em setembro e outubro. O fluxo de caminhões nas rodovias que cobram pedágio, por exemplo, cresceu 2,4% ante o mês anterior, segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Em setembro e outubro, houve queda ante o mês anterior de 1,7% e 0,6%, respectivamente. Os dados, calculados pela ABCR em conjunto com a Tendências Consultoria Integrada, levam em conta o comportamento típico dos fluxos de um mês para o outro.

O sócio da Tendências Roberto Padovani diz que o crescimento no fluxo de caminhões nas rodovias em novembro mostra que a economia iniciou um processo de reaquecimento. "A queda do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre foi pontual."

As vendas de papelão ondulado também confirmam que a atividade voltou a se aquecer em novembro. No mês passado, os volumes de papelão ondulado vendidos pelas indústrias cresceram 1,31% na comparação com outubro, depois de terem caído 2,68% em outubro ante o mês anterior. O papelão ondulado é outro importante termômetro de ritmo de atividade porque acondiciona boa parte do que é produzido e comercializado pela indústria e o varejo,

"A queda de setembro para outubro nas vendas papelão ondulado foi atípica", afirma o presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), Paulo Sérgio Peres. Ele diz que as indústrias esperavam mais de outubro e lembra que o mês foi prejudicado pela crise política.

"As programações dos empresários para o fim de ano foram atrasadas, o que afetou os resultados de outubro", diz Peres. Ele pondera também que o surto de febre aftosa prejudicou as vendas de papelão porque boa parte os exportadores de carne vende o produto embalado em caixas de papelão.

Armando Porto Pimentel, diretor de Marketing e Produtos da Rigesa, uma das maiores indústrias de papelão ondulado, confirma que os negócios recuaram em outubro por causa da crise no setor de carnes provocada pela febre aftosa. "Em novembro os negócios voltaram ao normal", diz ele.

Pimentel conta que a venda de bens duráveis, como televisores e aparelhos de DVDs, vai muito bem. Os fabricantes desses produtos são grandes consumidores de papelão ondulado. Dados da Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletrodomésticos, aparelhos portáteis e eletrônicos, mostram que o ano fechará com produção de 9 milhões de televisores, um recorde para o setor. O resultado superou as expectativas, que apontavam um produção 8,8 milhões de aparelhos. A maior marca anterior foi alcançada em 1996, quando foram produzidos 8,6 milhões de televisores.

A Batávia, que fabrica produtos lácteos refrigerados e agora sucos prontos para beber, itens cujo consumo depende especialmente da renda e do emprego, informa que não sentiu retração nas vendas no terceiro trimestre. "A freada no PIB do terceiro trimestre refletiu principalmente a crise da agricultura", diz o diretor geral da companhia, José Antonio do Prado Fay.

Ele ressalta que a empresa está otimista para o ano que vem e projeta crescimento de 13% a 15% nas vendas. Neste ano, o acréscimo do faturamento da Batávia deve oscilar entre 16% e 18%. "Em 2006 teremos eleições e mais dinheiro circulando no mercado, além de um juro menor."

Outro indicador antecedente importante divulgado na semana passada que ratifica a retomada foi a venda de veículos no mercado doméstico. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram comercializados no País em novembro 158,4 mil veículos, entre nacionais e importados. O volume é 15% maior em relação ao registrado no mês anterior. Em outubro e setembro, as vendas de veículos tinham recuado 4,7% e 4,6%, respectivamente.

"O número da Anfavea veio bastante forte", destaca o economista Bráulio Borges, da LCA. Ele lembra que a produção de veículos pesa cerca de 10% na produção industrial e que esse setor, ao lado do papelão, deve ter forte influência no desempenho da indústria no último trimestre deste ano.

Também o resultado da produção industrial de outubro apurada pelo IBGE, que ficou estável ante setembro, reforça a premissa de reversão.