Título: Indústria acelera, de olho em 2006
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Reação das vendas no último trimestre abre boas perspectivas para o início do próximo ano e fabricantes já reduzem férias coletivas

O ritmo da atividade econômica começou a reagir em novembro, depois da queda de 1,2% no terceiro trimestre do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas no País. A reversão da atividade no quarto trimestre provavelmente não garante um crescimento robusto, capaz de fazer com que o PIB feche o ano beirando 3% de alta ante 2004. Mas abre boas perspectivas para o início de 2006, período normalmente fraco para a indústria e o comércio. Atentas para essa virada que já começou a se esboçar, há indústrias que reduziram o período de férias coletivas entre o Natal e o Ano Novo. A Philips do Brasil, fabricante de televisores, por exemplo, cortou pela metade as quatro semanas de férias coletivas de 3 mil funcionários da fábrica de Manaus.

"Nossos estoques baixaram muito", observa o vice-presidente de Eletrônicos de Consumo, José Fuentes. Como a companhia já tem pedidos para janeiro e fevereiro, não quer arriscar virar o ano com baixos volumes. É que 2006 tem Copa do Mundo, quando as vendas de TVs são mais fortes no primeiro semestre, diz o executivo. A expectativa da empresa é elevar em 10% os volumes vendidos de aparelhos de áudio e vídeo neste Natal, na comparação com a mesma data de 2004.

A Latina, que produz máquinas de lavar semi-automáticas, bebedouros refrigerados e purificadores de água em São Carlos (SP) é outra indústria que cancelou as férias coletivas que seriam concedidas este mês aos funcionários da linha refrigeração. "A linha de produção de refrigeração não vai parar este fim de ano, só na véspera e nos dias do Natal e do Ano Novo", conta o diretor de Operações e Tecnologia, José Paulo Coli. No ano passado, houve férias coletivas nesse período. "Vamos continuar faturando até a virada do ano. Esse segmento hoje está indo muito bem e isso indica um bom começo de ano."

Outro fabricante do setor de eletrodomésticos conta que reforçou a produção desde meados de novembro com mais um turno para atender pedidos que estão chegando na última hora. Também reformulou a logística para as entregas. "Montamos um esquema especial", diz o empresário, que não quer ser identificado. Isso significa caminhões com dois motoristas para reduzir o tempo de viagem entre a fábrica e as lojas. "Agora é a corrida contra o tempo."

O repique de encomendas do varejo este mês se repete nas fábricas de bicicletas, telefones fixos, fogões e eletroportáteis. Atropelado pela crise política que fez despencar a confiança do consumidor em setembro e outubro, o varejo atrasou os pedidos de fim de ano e ainda encomendou volumes menores do que programava no primeiro semestre. Agora, com a reversão na confiança do consumidor a partir do mês passado, o comércio corre atrás dos fabricantes para complementar os pedidos.

No início do ano, a expectativa era de um Natal ótimo. Com a crise política, o prognóstico passou a ser de um Natal ruim. E, a partir de novembro, os empresários acreditam que este será um bom Natal, diz um industrial.

Logo após o início da crise política, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo chegou a projetar queda de 12% nas vendas deste Natal. Agora considera a perspectiva de repetir o faturamento real da mesma data de 2004, podendo até ter algum crescimento.

Nos shoppings, a projeção do primeiro trimestre era ampliar em 11% as vendas do Natal ante 2004. No fim do primeiro semestre, a estimativa caiu pela metade (5%). Hoje, a projeção varia entre 5% e 8% de alta.