Título: Brasil precisa mudar, diz Bird
Autor: Denise Chrispim Marin, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

Documento divulgado pelo Banco Mundial mostra que País é mais corrupto do que a China

O Banco Mundial (Bird) lançou um alerta ao governo sobre a necessidade de formular e de avançar em uma agenda de reformas ao apontar que o Brasil mantém um nível de corrupção mais elevado do que a China, um dos principais concorrentes do País na atração de investimentos estrangeiros produtivos. Em uma comparação entre as duas economias, mais Índia, que consta do estudo Clima de Investimento no Brasil, organizado pelo Bird, o País mostra-se em desvantagem também no que se que refere à confiança de suas empresas na Justiça, na velocidade de liberação de exportações e de importações nas aduanas e ainda na certificação de firmas. Sem uma agenda microeconômica que ataque esses problemas, acentua o documento, a falta de dinamismo da economia brasileira será potencializada. O estudo foi coordenado pelo economista José Guilherme dos Reis, que foi secretário de Política Econômica no governo Fernando Henrique Cardoso. Foram colhidas informações em 1.642 indústrias de 13 Estados, entre julho e outubro de 2003. As informações estão em um banco de dados de 59 países, todos associados ao banco, o que permitiu a comparação entre as três economias.

Nos resultados, as empresas indicaram que 12,2% dos contratos com o governo envolveram o pagamento de propinas. Na China, esse porcentual foi de 2,2%. Não há dados sobre a Índia. A parcela de empresas brasileiras que não acreditam no sistema Judiciário alcançou 39,7%. Na China, o porcentual foi a menos que a metade (17,6%) e na Índia, 29,4%.

Entre as dificuldades das empresas está a morosidade do sistema aduaneiro, que demora 13,7 dias para a liberação de importações no Brasil, onde boa parte da produção de manufaturas para exportação depende de componentes importados. Na China, a demora é de 8,1 dias, e na Índia, de 7,1 dias. Para as exportações, também há gasto excessivo de tempo no Brasil, onde a demora é de 8,4 dias.

O País tem menos empresas com licença estrangeira e certificação ISO - indicadores do investimento na inovação gerencial. Já as empresas brasileiras gastam mais com segurança e perdem mais coma criminalidade que as indianas e chinesas.

Esses foram só alguns dos fatores destacados, de uma lista que envolve questões nas áreas de inovação tecnológica, governança, infra-estrutura e legislação trabalhista. Todos esses componentes, porém, derrubam as taxas de produtividade das empresas brasileiras e pesam nas decisões dos investidores, como advertiu José Guilherme. "No Brasil, o clima de investimentos continua sendo obstáculo ao crescimento da produtividade e à eficiência da economia. As questões macroeconômicas devem permanecer na agenda, mas as microeconômicas têm de ser enfrentadas."

Durante o seminário "Agenda Microeconômica - Evidências e Perspectivas", no qual foi apresentado o estudo, o economista Armando Castelar, do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que a falta de investimentos limitou o crescimento da economia brasileira a 3% ou 3,5% ao ano, apesar do bom momento vivido no plano internacional. Segundo ele, está faltando ao País "um clima, um algo mais" para que a poupança gerada pelas exportações torne-se investimento produtivo no País. Os principais empecilhos, aponta, são grande carga tributária e juros altos.

Questionado sobre esses dois temas, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, afirmou que "os juros já estão caindo, mas este é um assunto do Banco Central, sobre o qual o Ministério da Fazenda não se manifesta". Ele avaliou que o estudo será uma contribuição importante. Mas destacou que, como é um baseado num questionário com perguntas específicas, poderia incorrer em alguns problemas metodológicos, em função do momento econômico pelo qual passava o Brasil quando a pesquisa foi feita.

Já o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, reconheceu que a crise política torna mais lenta a aprovação de medidas que reformariam a economia. "A crise política não está inviabilizando o andamento da agenda microeconômica, mas certamente como a energia está voltada para a crise política, reduz o ritmo das reformas." Colaborou: Renata Veríssimo