Título: Pagamento antecipado fortalece imagem do País
Autor: Gustavo Freire, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Credibilidade cresce e risco país, termômetro que mede a capacidade de um País arcar com os compromissos, deve ficar abaixo de 300 pontos

A decisão do governo de antecipar o pagamento de US$ 15 bilhões ao Fundo Monetário Internacional vai fortalecer a credibilidade do Brasil no exterior, avaliam economistas. Com isso, a tendência é de o risco país cair mais, rompendo a barreira dos 300 pontos. Esse índice mede a confiança do mercado mundial em relação à capacidade de um País de arcar com os compromissos.

Ontem, o risco país, que começou o dia em alta, inverteu a curva e caiu 1,58%, para 311 pontos, depois do anúncio do Ministério da Fazenda, no início da tarde. 'Nesse ritmo, podemos chegar aos 300 pontos em breve', avalia o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini Ele diz que esse pagamento somente foi possível por causa do aumento das reservas do País, que estavam em US$ 67 bilhões, na segunda-feira. Essa elevação se deve especialmente ao fato de o Banco Central (BC) ter comprado dólares no mercado para controlar a valorização do real nos últimos meses. No caso dos leilões reversos, o governo emitia títulos e adquiria dólares. De outro lado, ele aumenta a dívida em papéis prefixados.

Na avaliação do economista Raul Veloso, especialista em contas públicas, a decisão é positiva, pois muda a imagem do País no exterior. 'Além disso, é melhor dever a um banco do que àquele que é considerado credor de última instância, que te financia quando está no buraco.' Para a analista do Brasil na agência de classificação de risco Standard & Poor´s, Lisa Schineller, o pré-pagamento é 'um exemplo da continuidade da gestão prudente da dívida brasileira, mas não tem impacto imediato no rating do Brasil'.

Segundo ela, a decisão do governo é uma demonstração da vontade e do compromisso do Brasil de cumprir suas obrigações, e alivia o fluxo de caixa do País. Mas foi uma decisão previsível, que já estava dentro do leque de opções do Brasil com a melhora do balanço de pagamentos.

Na opinião de Ilan Goldfajn, sócio da Gávea, empresa de gestão de recursos, e ex-diretor do BC, a antecipação do pagamento 'é um ótimo primeiro passo para usar as intervenções que o BC está fazendo para reduzir a dívida externa bruta'. Isto quer dizer que, depois de liquidar a dívida com o FMI, o próximo passo seria reduzir a dívida em bônus, usando a estratégia de não rolar integralmente os vencimentos de títulos externos.

Ele observa que como a remuneração das reservas internacionais é muito baixa, comparada com o custo de captar reais no mercado interno para comprar os dólares (como o BC vem fazendo), talvez o ideal seja usar a moeda estrangeira adquirida para reduzir a dívida externa bruta.

Outro que considerou oportuna a decisão do governo foi Paulo Leme, economista responsável pela América Latina do Goldman Sachs. Segundo ele, a medida 'é muito positiva e importante antes das eleições'. Ao levar a uma economia de juros de US$ 900 milhões em 2006 e 2007, a medida, de certa forma, abre espaço para o BC continuar a política de acúmulo de reservas, observa Leme.

Já o economista-chefe do Opportunity Asset Management, Gino Olivares, achou ótima a medida porque ela termina com as especulações do mercado financeiro sobre o motivo que estaria levando o BC a ser tão agressivo nas compras de dólares. 'Agora está claro que o objetivo era fazer o pré-pagamento ao FMI.' Para Olivares, é possível que o BC reduza um pouco o ritmo de compras após o pré-pagamento, o que levaria a uma valorização ainda maior do real.