Título: Bilhete único alimenta guerra surda de tucanos
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2005, Nacional, p. A12

Serra depende de Alckmin para concretizar promessa de campanha

O bilhete único integrado, uma promessa de campanha do prefeito José Serra que depende do governo estadual para se concretizar, é, no momento, o principal nó a marcar a disputa entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra pela indicação do PSDB à presidência da República. Por trás das relações cordiais que os dois exibem em público, o projeto tem tudo pronto para funcionar, do ponto de vista técnico, mas problemas insondáveis persistem entre a SPTrans (da prefeitura), a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e o metrô, ambos do Estado. Na guerra pela indicação, os dois tucanos dão tudo de si, mas não descumprem uma regra-chave: é guerra, mas deve ser surda. Nas últimas semanas, os dois têm conduzido as articulações para conseguir a preferência do partido em março de 2006, mas sem esquecer que o vencedor vai precisar do perdedor. Por isso, a disputa não pode deixar mágoas. Na guerra surda, os dois disputam programas de TV, declarações de apoio e impasses na realização de projetos comuns.

TV X TV

Quando Serra descobriu que Alckmin ia dar uma grande entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, anteontem, deu um jeito de aparecer no programa de Hebe Camargo, no SBT. Ontem, Alckmin deu o troco: o megaempresário Antônio Ermírio de Moraes deu declarações a favor de sua candidatura e contra a de Serra.

Na semana passada, um jantar de Serra com o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), do clã baiano, simbolizou um gesto firme na aproximação de Serra com o PFL, uma relação que fora penosa em 2002. Um incentivo a essa aproximação é o fato de que, se for candidato, Serra concede 2 anos e 9 meses de gestão na prefeitura ao vice Gilberto Kassab, o que encanta o PFL.

Ontem, depois do êxito da entrevista ao Roda Viva, Alckmin suavizou: "Nós não temos adversários no PSDB, temos companheiros. Podem ter aspirações legítimas, sem problema", afirmou. A mesma cantilena é repetida por assessores dos dois lados: a disputa pela indicação presidencial é legítima aos dois tucanos.

Um argumento que minimiza as dimensões da guerra surda é que os dois foram assessorados, em 2002 e 2004, pela mesma empresa de comunicação, a GW Comunicação. Hoje, auxiliares dos dois lados garantem que a GW certamente fará a campanha do candidato presidencial do PSDB no próximo ano, seja Serra ou Alckmin.

Alckmin, ontem, previu que a disputa será resolvida antes da convenção definitiva, prevista para março de 2006. "Acho que vamos caminhar para o entendimento, para o consenso, o partido vai estar unido", disse. Todos no partido sabem, no entanto, os dilemas de cada um. Serra tem uma enorme dificuldade para abandonar a prefeitura; Alckmin enfrenta o desafio de subir nas pesquisas de opinião.