Título: Palocci diz estar preocupado com Furlan
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2005, Nacional, p. A5

Enquanto ele chama o colega de "ás de ouro" da equipe, o vice José Alencar diz que 'começou antes' (a criticar) O ministro Luiz Fernando Furlan enviou ao Estado carta em que diz que suas declarações de anteontem, em Hong Kong, foram "interpretadas livremente" pelo repórter. É a seguinte a íntegra da carta: "A respeito da matéria publicada hoje (ontem) pelo jornal O Estado de S. Paulo com o título 'Governo está sem objetivos, diz Furlan', gostaria de esclarecer os seguintes pontos. Frases como 'sensação geral de desânimo', 'Falta de metas para 2006', 'paralisia administrativa' e 'falta de objetivos e cenários' foram interpretadas livremente pelo repórter. Basta ler as matérias publicadas em outros jornais no dia de hoje (ontem) para saber que o que falei durante a entrevista, concedida simultaneamente para vários repórteres, foi colocado no contexto desejado pelo jornalista e não pelo contexto de minha fala. "Em nenhum momento da entrevista eu afirmei que o governo não tem metas ou objetivos para 2006. Perguntado se o governo não estabeleceria metas para o próximo ano, disse que na reunião de 19 de dezembro seriam apresentados os números para 2006, mas que se dependesse somente de mim, haveria também uma meta de crescimento. Disse ainda que nós (o governo) trabalhamos com as sinalizações do mercado, ao invés de traçarmos os cenários que estimulem as empresas e a sociedade, o que é nossa obrigação. Afirmei que era preciso que fossem sinalizados os objetivos e os instrumentos para alcançá-los. "Ao ser questionado pelo repórter se o Brasil realmente vem enfrentando um período de desânimo e se o setor produtivo compartilhava dessa percepção, afirmei que muitas empresas fizeram cenários negativos de câmbio e juros, provocando uma sensação de desânimo que afetava as iniciativas, novos investimentos no País e o consumo. Complementei que, apesar disso, continuava sendo o ministro mais otimista da Esplanada. E em nenhum momento descrevi quais seriam as duas ondas de desânimo anteriores, conforme cita o repórter. "Aproveito para esclarecer que tenho grande respeito pelos repórteres desse jornal, que sempre foram prontamente atendidos por mim, e por seus milhares de leitores. Justamente por esse motivo, gostaria que fosse publicado esse meu esclarecimento a respeito da matéria, uma vez que ela leva a interpretações equivocadas e sensacionalistas. Atenciosamente, Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior" Cleide Silva O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem ter ficado preocupado com a confissão do ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que informou estar desanimado com os rumos do País. "Vou ligar para ele e dizer para não perder o ânimo porque o ministro Furlan é um grande incentivador dos grandes projetos que fizemos este ano", afirmou Palocci. De Hong Kong, onde participa de reuniões da Organização Mundial do Comércio (OMC), Furlan criticou, na segunda-feira, a falta de objetivos e cenários do governo para 2006. Ele também teria dito que a sensação de desânimo está afetando as iniciativas e decisões de cidadãos ou empresas.

Palocci, que ontem se encontrou com empresários, em São Paulo, preferiu elogiar o ministro - "ele é um ás de ouro da nossa equipe" - e creditar ao "trabalho pessoal e da equipe" de Furlan os bons resultados das contas externas. O ministro também descartou a saída de Furlan. "Ele é um grande ministro e jamais colocou indisposição em continuar seu trabalho."

Informado das queixas do ministro Furlan contra a falta de metas para 2006, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, reivindicou o pioneirismo nas críticas. "Há uma conscientização nacional", afirmou. "Mas eu comecei antes." E o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse esperar que o Comitê de Política Monetária e o Conselho Monetário Nacional respondam às expectativas da "sociedade", com a redução da taxa Selic e da TJLP.

Também em São Paulo, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, adotou um discurso oposto ao de Furlan. "O governo tem rumo muito claro", disse ele, antes de participar do seminário "Novo Mapa do Brasil", realizado pelo Grupo Estado.

"Este governo está implementando um projeto de desenvolvimento que começou no primeiro ano de governo", afirmou. Esse projeto, explicou, é formado por um conjunto de políticas públicas direcionadas, entre outros itens, para o desenvolvimento sustentável, a distribuição de renda e o reforço do mercado interno. Disse que que a taxa média de crescimento do período de 1990 a 2002 ficou em 1,9% e que o governo obteve taxas acima dessa média. "O País vai crescer 4,5% a 5% em 2006".

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo, Paulo Skaf, não quis endossar as afirmações de Furlan. "É preciso primeiro saber o que Furlan quis realmente dizer com as palavras e em que contexto", comentou Skaf. O diretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp, Giannetti da Fonseca, foi incisivo: "Furlan demonstrou o verdadeiro sentimento dos empresários. Ele está frustrado como nós."