Título: Valerioduto chegou à Coréia do Sul
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2005, Nacional, p. A6

A CPI dos Correios descobriu que os negócios do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza se estendem até o Oriente. Os técnicos da comissão rastrearam uma operação financeira do valerioduto que injetou cerca de R$ 2 milhões nas contas de quatro empresas da Coréia do Sul, em agosto de 2004. O dinheiro saiu de uma das empresas de Valério, passou por duas tradings e, lavado, desembocou nas contas das empresas, todas do setor têxtil. As companhias e as tradings estão envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro do MTB Bank, montado por doleiros. É a primeira evidência de que o braço do valerioduto no exterior não se resume às operações com o publicitário Duda Mendonça. A CPI agora vai investigar se as remessas têm conexão com o mensalão ou se Valério atuou como intermediador de outro esquema.

A operação ocorreu entre o final de julho e o começo de agosto do ano passado, num espaço de cinco dias ¿ véspera das campanhas eleitorais municipais.

CAMINHO

Os extratos bancários das empresas de Valério e das tradings em poder da CPI mostram o caminho do dinheiro. Em 30 de julho, a 2S Participações transferiu R$ 1.967.403 para a conta da Athenas Trading. Dois dias depois, a Athenas fez um depósito para a Eplo Trading no mesmo valor ¿ apenas R$ 91 a menos. No mesmo dia, a Eplo fez remessas para as contas das empresas G Honey Global Ltd., Samil Knit Co., Ra Sung Family Co. e Orientex Precision Industrial Co. As quatro operações somam R$ 1.963.400,47. Ou seja: R$ 4 mil a menos do que entrara na conta da trading.

A maior transferência, de R$ 796 mil, teve como destino a Samil Knit. A Ra Sung Family vem logo atrás, com R$ 511 mil. A G Honey Global recebeu R$ 403 mil e a Orientex, R$ 211 mil.

Embora a CPI não tenha como saber quem são os verdadeiros beneficiários, peritos alertaram os parlamentares de que as quatro empresas mantiveram operações no esquema de lavagem de dinheiro do MTB Bank. Investigação da Promotoria de Nova York descobriu que o banco americano serviu como corredor de dinheiro sujo de corrupção, do narcotráfico, do crime organizado e do terrorismo internacional. O esquema era operado por doleiros, inclusive brasileiros. A Polícia Federal e o Ministério Público ainda investigam o caso.

A Orientex é a empresa que aparece com mais registros no MTB. Ao todo recebeu 47 depósitos, entre 1998 e 2003, de empresas sediadas em paraísos fiscais e com contas controladas por doleiros. Os depósitos somam US$ 2,8 milhões.

A G Honey Global recebeu US$ 1,3 milhão em seis operações feitas entre abril de 2002 e setembro de 2003. Samil Knit e Ra Sung Family Co. receberam pelo menos uma vez pelo banco. A Samil Knit recebeu US$ 60 mil da Azteca Financial Corporation, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas e a Ra Sung, US$ 14.200. A própria Eplo Trading, que remeteu os recursos, fez pelo menos dez operações via MTB, entre fevereiro de 2001 e outubro de 2002, em plena campanha eleitoral.