Título: 'Oposição quer sangrar governo até eleição'
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/12/2005, Nacional, p. A5

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, previu, em entrevista ao Estado, que o cenário político não será tranqüilo no próximo ano, porque, a seu ver, ¿a oposição quer fazer o governo sangrar até as eleições¿. ¿A gente sente que há uma vontade natural na oposição de fazer prolongar essa crise, porque ela virou uma disputa eleitoral.¿ Mas Bastos disse que os governistas não temem o confronto. ¿Vamos, então, fazer a disputa¿, desafiou. Mesmo com essa previsão sombria, o ministro disse entender que a crise política que fustiga o PT e a base aliada há nove meses está quase debelada, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será reeleito e que o ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado José Dirceu deverá voltar à cena política, não necessariamente dentro do governo. ¿Ele (Dirceu) tem uma história muito importante e não vai deixar de ter um papel na história do Brasil, mas eu não tenho nenhuma informação a respeito do retorno dele a algum cargo no governo¿, ressalvou.

CERTEZA DA CANDIDATURA

Bastos disse ter certeza de que Lula será candidato, apesar de o presidente não lhe ter dito nada a respeito. ¿Eu acredito que ele será candidato e que a disputa vai despertar o País para um grande debate nacional¿, comentou. Para ele, esse debate vai preparar as condições para uma ampla reforma política, que ele garante ser a primeira tarefa de um eventual segundo mandato de Lula. As CPIs do Congresso que investigam o esquema de caixa 2 do PT até agora não convenceram Bastos da existência do mensalão, a mesada que teria sido paga a parlamentares e a partidos da base aliada em troca de apoio ao governo. ¿Eu não acho que isso (mensalão) esteja devidamente provado¿, observou. Mas o ministro acha que o caso só será esclarecido quando as conclusões das CPIs forem submetidas ao crivo do Ministério Público.

Criticado pela oposição e por setores da sociedade por causa dos elevados índices de violência do País, Bastos garantiu que a política de segurança pública é consistente e que os resultados começaram a aparecer e serão mais visíveis ainda em 2006. ¿O País vai crescer muito no ano que vem e isso vai ajudar no combate à criminalidade e no estabelecimento de um País mais seguro.¿ Para ele, não se pode esperar resultados de curto prazo porque segurança pública não se faz só com repressão, mas com crescimento econômico, melhor distribuição de renda e geração de empregos. ¿Não se pode ter pressa nisso. A repressão, nós estamos fazendo bastante, mas ela tem um limite.¿

Isso não quer dizer, explicou, que a pobreza seja a causa da criminalidade, mas a desigualdade de renda, sim. ¿A promiscuidade entre a extrema pobreza e a extrema riqueza é fator de criminalidade. Só a redução da desigualdade vai diminuir a sensação de insegurança que permeia as nossas vidas de classe média¿, opinou. Ele destacou que, de acordo com a última Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD), nunca se distribuiu tanta renda como agora: ¿Os empregos estão sendo gerados, o País está crescendo, a inflação está sob absoluto controle e todos os indicadores econômicos são bons. Tudo isso cria as condições para se diminuir a violência¿, afirmou.