Título: `Estamos muito aquém do direito do índio¿
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/12/2005, Vida&, p. A10

Para Kleber Gesteira, coordenador nacional de Educação Escolar Indígena, as políticas públicas para a área ainda estão muito aquém do direito dos índios. Apesar dos esforços iniciados principalmente a partir da década de 90, os resultados só começam a ser sentidos agora e ainda são insuficientes . Um dos principais problemas é a evasão escolar na medida em que se avançam as séries. ¿As carências que vemos nas escolas públicas em geral também aparecem nas escolas indígenas¿, afirma. Seu cargo é subordinado à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação. Como está a educação indígena no Brasil?

Está melhorando. Esse esforço começou há cerca de dez anos, quando a atribuição de prover educação nas aldeias passou das mãos da Funai (Fundação Nacional do Índio) para as secretarias estaduais ou municipais de Educação. Mas os resultados começaram a ser sentidos só mais recentemente. Entre 2002 e 2004, o número de escolas subiu de 1.700 para 2.200. O número de alunos no ensino básico (até o ensino médio) aumentou de pouco mais de 100 mil para perto de 150 mil. No entanto, ainda estamos muito aquém do direito do índio, já que pelo menos 300 mil índios estão em idade escolar.

Os outros 150 mil índios estão fora da escola?

Não. Cerca de 50 mil estudam nas cidades, em escolas regulares. De qualquer forma, uma parte considerável está fora da escola. Mas, em alguns casos, as populações optam por não colocar suas crianças na escola, principalmente por estratégia sociocultural, como forma de fortalecer sua identidade. A escola é uma instituição estrangeira aos povos indígenas. Por isso, não podemos impor, induzir nem seduzir. Mas um fato que nos preocupa é o número de alunos indígenas ir caindo na medida em que se avançam as séries, principalmente no ensino médio. Isso nos preocupa.

As populações indígenas dizem que há poucas escolas de ensino médio e que as de ensino fundamental são precárias. Como resolver esse problema?

A educação indígena faz parte da educação pública brasileira. As carências que vemos nas escolas públicas em geral também aparecem nas escolas indígenas. Para melhorar, o primeiro ponto é a formação de professores. Em segundo lugar, precisamos construir e ampliar as escolas. Depois, produzir material específico para cada povo. A responsabilidade direta pelas escolas cabe aos Estados e municípios. O Ministério da Educação entra principalmente com recursos e como articulador. Infelizmente, nossas políticas públicas ainda precisam melhorar muito.