Título: Empresas reduzem dívidas em dólares
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

Apesar de reduzir a competitividade dos exportadores, a valorização do real frente ao dólar tem ajudado a melhorar a saúde financeira das empresas endividadas em moeda estrangeira. A parcela dos débitos em dólar, que já representou 71% do estoque total de dívidas em setembro de 2002, está em 50,1%. Levantamento da consultoria Economática, com 186 empresas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), de setembro de 2004 a setembro deste ano, indica que as dívidas em dólar haviam encolhido R$ 19,1 bilhões, de R$ 92,2 bilhões para R$ 73,1 bilhões.

Em compensação, o endividamento em moeda local teve um acréscimo em relação a 2004, de R$ 70 bilhões para R$ 73 bilhões. Esse avanço pode ser explicado pelo aumento das captações no mercado interno especialmente por meio de debêntures e lançamento de ações.

Até o dia 2 de dezembro, o volume de operações registradas na Comissão de Valores Imobiliários (CVM) era de R$ 63,896 bilhões, incluindo emissão de ações, debêntures e notas promissórias. Em 2004, essas transações somaram R$ 26,528 bilhões durante todo o ano. Ainda estão em análise cerca de R$ 7,15 bilhões. Uma parte desses papéis é de empresas que não são negociadas na Bovespa.

De acordo com a Economática, o estoque total de dívidas das empresas, em moeda local e estrangeira, caiu 10% até setembro, de R$ 162,4 bilhões para R$ 146,1 bilhões. O presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, diz que boa parte desta redução deve-se à queda do dólar.

No final do terceiro trimestre deste ano a moeda americana estava cotada em R$ 2,222, ante R$ 2,859 em igual período do ano passado. Esse recuo teve efeito positivo nas contas das empresas com dívidas em dólar e elevou a lucratividade.

Com mais dinheiro em caixa, as companhias também puderam pagar parte do endividamento e reduzir sua exposição à moeda estrangeira, completa a diretora da agência de classificação de risco Standard & Poor¿s, Milena Zaniboni. ¿As empresas aproveitam o bom momento do mercado internacional e das commodities em alta e renegociam os débitos¿, afirma. Milena informa que várias companhias mudaram o perfil das dívidas, alongando prazos e renegociando custos.

Essa preocupação deve-se especialmente ao susto de 2002, no período pré-eleitoral, quando o dólar chegou a bater a casa dos R$ 4 por causa das incertezas em relação à política econômica a ser seguida pela equipe de Lula, afirma o diretor da Economática Einar Rivero. Nessa época, o estoque total de dívida das 186 empresas avaliadas pela Economática chegou a R$ 175 bilhões, sendo R$ 124,5 bilhões em moeda estrangeira.

Rodrigues lembra que a preocupação começou em 1999, com a desvalorização cambial e a adoção do regime de câmbio flutuante. Na época, diz ele, as empresas fizeram altas dívidas em moeda estrangeira e não se protegeram fazendo ¿hedge¿. Isso porque não acreditavam que poderia haver uma maxidesvalorização do real. ¿Quando isso aconteceu, muitas empresas quebraram e outras ficaram em situação bastante delicada¿, completa Rodrigues. ¿Mas os empresários aprenderam que não podem fazer captações em moeda estrangeira e não se proteger.¿ Milena diz que eles hoje buscam mais saúde no estoque da dívida.

Segundo o levantamento da Economática, entre as companhias que mais reduziram em valor o endividamento em dólar estão a Companhia Vale do Rio Doce (R$ 2,7 bilhões), a Eletrobrás (R$ 1,8 bilhão) e Light (R$ 1,5 bilhão). Petrobrás e Companhia Energética de São Paulo também tiveram reduções expressivas de R$ 1,5 bilhão e R$ 1,4 bilhão. Da dívida total, a companhia que teve o maior corte foi a Eletrobrás ¿ de R$ 12,2 bilhões para R$ 7,1 bilhões.