Título: Tilápia toma espaço do couro de boi
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

Enquanto os fabricantes de calçados de Franca, interior de São Paulo, reclamam da crise, uma pequena empresa, também do pólo calçadista, avança numa idéia nova e lucrativa: a manufatura do couro de tilápia, mais uma pele no rol dos chamados couros exóticos, ao lado do de rã, cobra, jacaré e arraia. O produto tem boas vantagens comparativas: é cotada em centavos de real, encontrada em abundância nos pesqueiros da região e a exploração não está condicionada à autorizações da agência ambiental, o Ibama.

A atividade começa a prosperar em Franca, estimulada pelo interesse de consumidores por produtos baseados em pele de peixe. O negócio já criou uma pequena cadeia industrial na região, que cruza do beneficiamento da pele à confecção de artigos. O ganho econômico é expressivo. Um produto com pele de tilápia, feito de forma artesanal, obtém uma remuneração entre 30% e 100% superior na comparação com artigos similares produzidos com couro bovino, variando o produto.

Edson Pereira Nunes é engenheiro químico de um dos curtumes de Franca, o Quimifran, um dos maiores do pólo. Além disso, converteu-se em empresário. Criou no curtume para o qual trabalha um espaço onde cuida do curtimento da pele de tilápia. Foi neste ano, em janeiro, que Nunes ¿ depois de dominar a técnica de curtimento da pele de peixe ¿ montou a Claudia Nunes, nome da esposa e da grife, que assina as sandálias, as bolsas e os chapéus feitos com pele de tilápia.

Os 400 quilos de couro de peixe curtidos mensalmente já não são suficientes para atender a procura. Há demanda para mais. Por isso, Nunes se prepara para duplicar a produção de couro de tilápia nos próximos meses e sonha com o ano de 2007, quando pretende alcançar um volume de duas toneladas de peles produzidas mensalmente. ¿Demanda há, apenas não tenho como atender tanta procura¿, diz. O primeiro desafio é o de encontrar a pele. Para dar perenidade ao fornecimento, Nunes fechou um acordo com quatro pesqueiros da região de Franca. O que era lixo virou matéria-prima para a confecção de produtos. Agora, já negocia com pesqueiros de outras cidades do Estado de São Paulo para obter o couro. Compra peles por centavos e as vende como bolsas que podem chegar ao varejo a preços de R$ 250.

INVESTIMENTO

A estrutura de produção também deve ser alterada nos próximos meses. A manufatura do couro pronto exigirá a criação de uma estrutura verticalizada, que vai do processamento da pele à confecção final dos produtos e comercialização no mercado. O aumento da demanda dos artigos produzidos pela empresa determina a expansão da produção de couro.

Nos próximos anos, a fábrica Claudia Nunes planeja produzir pelo menos 100 pares de sandálias feminina e sapato masculino por dia. A produção de sapatos alinha a manufatura do couro de tilápia à tradição calçadista de Franca, onde está o maior pólo de calçados masculinos do País. Ainda é a única empresa a investir na criação de uma cadeia industrial baseada em couro de tilápia.

A empresa produz cerca de 500 pares de calçados femininos por mês. São mais 100 bolsas feitas a cada mês, além de aproximadamente 150 chapéus com detalhes de pele de peixe. ¿O que produzo, vendo¿, afirma.

Logo depois das festas de fim de ano, a pequena Claudia Nunes apresentará as criações em mercados maiores como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.