Título: Estudiosos criticam políticas sem articulação
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2005, Nacional, p. A4

Uma das questões mais recorrentes nas conversas com estudiosos do combate à pobreza é a desarticulação das políticas sociais e de desenvolvimento tocadas por diferentes instâncias de governo. Segundo o pesquisador José Maria da Silveira, do Instituto de Economia da Unicamp, para onde quer que se olhe é possível encontrar ações que se sobrepõem e não se articulam. O ideal seria que um programa potencializasse o outro. Na zona rural, as medidas de combate à fome dariam mais resultados se fossem articuladas com o crédito fundiário, programas de incentivo à agroindústria, construção de estradas. ¿No interior da Bahia, uma comunidade carente de energia elétrica teve recursos para a instalação de células de captação de energia solar¿, diz Silveira. ¿Era uma forma de estimular o desenvolvimento local. Mas, depois de certo tempo de uso, quando as células se desgastaram e quebraram, foram abandonadas porque esqueceram de articular a compra do equipamento com algum programa de governo que favorecesse a reposição das peças.¿

Outra questão recorrente é a dificuldade que os governos têm para ouvir comunidades carentes. ¿Não se pensa em política de atendimento às comunidades mais pobres como política emancipatória¿, diz o sociólogo Rudá Ricci, professor da PUC de Minas e coordenador do Instituto Cultiva.

Para o pesquisador Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia e Administração da USP, quanto mais os grupos interessados participarem dos processos de mudança, maiores são as chances de os resultados serem favoráveis. ¿O debate de projetos para suprimir a pobreza não pode envolver apenas ONGs, governos e representantes dos pobres¿, diz ele. ¿É preciso ampliar os horizontes sociais, envolver outros setores, como as associações comerciais e empresariais, os estudiosos.¿