Título: Coordenador de 33 presídios é detido
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Metrópole, p. C4

O coordenador de 33 presídios da região de Campinas, João Batista Paschoal, que faz parte da cúpula da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), foi preso na manhã de ontem acusado de participar de um esquema de venda de transferência para detentos do Primeiro Comando da Capital (PCC), liderado pela advogada Suzana Volpi Micheli, de 40 anos, mulher de um juiz de direito da capital. Ela e outros dois ex-presidiários também foram detidos. As remoções eram vendidas por R$ 7 mil a R$ 8 mil a prisioneiros interessados em ir para presídios com direção mais branda e regalias ou mais próximos de suas quadrilhas, parentes e namoradas. Segundo a polícia, pelo menos oito detentos - dois deles já identificados - pagaram pela remoção. Mas as suspeitas são de que o grupo tenha comercializado vagas para dezenas de condenados.

Paschoal, Suzana e os ex-presidiários Ulisses Azevedo Soares, de 69 anos, e Manoel Cruz da Silva, de 39, foram identificados em cinco meses de investigação da Operação Transferência, do Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic). Eles estão presos provisoriamente por 15 dias e responderão a processo por corrupção e formação de quadrilha ao lado dos detentos beneficiados. Paschoal responderá também a processo administrativo instaurado ontem pela Corregedoria dos Presídios. Ele foi afastado preventivamente do cargo e, comprovada a sua participação, poderá ser demitido.

Suzana propagava a venda das remoções por intermédio do cliente Ivonaldo Xavier da Silva, o Boi ou Boi Branco, preso na Penitenciária de Assis. Ele e outro detento, Nenê, recrutavam candidatos nas penitenciárias. Suzana dava os preços e, ao receber os nomes, ligava para o ex-detento Ulisses, que contatava Manoel, amigo de Paschoal, para fazer a remoção. Horas de interceptações telefônica revelam a negociação.

Homem de confiança do secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, Paschoal foi preso às 8 horas, ao chegar a seu gabinete no Complexo de Hortolândia, Campinas. Suzana foi presa em casa, no Morumbi. Segundo a polícia, eles admitem o esquema, mas negam a cobrança. "Lamentamos que um advogado e um funcionário da SAP estejam envolvidos", disse o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt.