Título: Presos falam em 16 mortos em RO
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Metrópole, p. C4

PORTO VELHO - Líderes da rebelião no presídio Urso Branco, em Porto Velho, afirmavam ontem que já haviam assassinado 16 detentos que estavam no ¿seguro¿. As supostas vítimas estavam ameaçadas de morte por denunciarem colegas de cela à administração. O Urso Branco é conhecido pela violência em suas rebeliões ¿ em 2004, presos foram degolados e seus corpos foram jogados de uma caixa d¿água. O Gabinete de Gerenciamento de Crises, formado por representantes do governo de Rondônia, da Vara de Execuções Penais e da Comissão de Direitos Humanos, esperava que o controle da prisão fosse retomado no ontem, porque haviam decidido atender a principal exigência dos rebelados: o criminoso Ednaldo Paulo de Souza, o Birrinha, seria devolvido ao Urso Branco. Ele é condenado a 130 anos de prisão por latrocínio.

O governo não admite oficialmente a existência de mortos no Urso Branco. Isso porque os corpos dos possíveis executados são transportados com cuidado pelos presos rebelados, o que foge dos costumes do local e sugere uma encenação.

No motim de abril de 2004, liderado por Birrinha, 14 presos morreram e os corpos eram tratados com crueldade. Birrinha foi apontado como o presidiário que decapitou alguns dos assassinados. Os corpos foram jogados de cima da caixa d¿água.

Os líderes da atual rebelião, que se informam sobre a divulgação de reportagens por telefones celulares, chamaram a imprensa para a frente do Urso Branco ontem pela manhã e penduraram um corpo na caixa d¿água.

Aparentemente ficaram perfurando o corpo com objetos cortantes, feitos com ferro retirado das celas.

O Gabinete de Gerenciamento de Crises exigia que que os 196 visitantes ¿ que estavam no presídio quando ocorreu a rebelião no domingo ¿ pudessem sair . Os rebeldes disseram que os parentes de presos permaneciam no local por livre e espontânea vontade. Os amotinados também se negaram a liberar os presos reféns.

Foram expostas na prisão faixas chamando de covarde o promotor de Justiça Amadeu Sikorski, de 41 anos, e protestando com o que chamam de ¿transferência covarde¿ de Birrinha. Sikorski havia tentado transferir o preso do Urso Branco anteriormente, mas os detentos ficaram sabendo da intenção do promotor e organizaram uma rebelião que durou poucas horas, o que garantiu a permanência do líder criminoso no presídio.

Na quinta-feira, Sikorski decidiu agir de surpresa. Ele voltou ao Urso Branco dizendo que queria conversar com Birrinha na administração do presídio. O promotor, então, mostrou decisão judicial determinando a transferência de Birrinha para o presídio de segurança máxima de Nova Mamoré, distante 200 quilômetros de Porto Velho.

¿Não se trata de transferência covarde. É que não preciso pedir autorização para preso para solicitar transferência de líder de rebelião para outro lugar. Saí do presídio com Birrinha debaixo do braço porque é muito melhor deixá-lo em um lugar mais seguro. Ele havia fugido do Urso Branco e tinha sido recapturado havia pouco tempo¿, declarou Sikorski.

DONOS DA PRISÃO

O promotor disse lamentar que a administração do presídio tenha se tornado refém dos presidiários. ¿Eles (os presos) se reúnem, fazem uma greve e são atendidos. Se somente greve não adiantar, fazem uma rebelião e conseguem o que querem. Do jeito como as coisas estão atualmente, é muito melhor entregar logo a administração do Urso Branco para os próprios presos. Aliás, eles já decidem até quem vai e que não vai depor em delegacia e quem pode ficar fora das celas. Quem olhar bem verá que os apenados já estão mandando no presídio¿, disse Sikorski.