Título: Fogo destrói processos de cobrança do INSS
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O maior incêndio ocorrido no Distrito Federal nos últimos 17 anos destruiu ontem 7 dos 10 andares do edifício-sede do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As chamas consumiram processos abertos contra empresas e entidades filantrópicas em dívida com a Previdência e investiga-se a possibilidade de o fogo ter tido origem criminosa, e não acidental. ¿Não descarto nem encarto¿, disse o ministro da Previdência, Nelson Machado, sobre uma ação criminosa. Ele classificou o episódio como uma ¿tragédia¿, mas garantiu que será feito um trabalho de reconstituição dos processos queimados. De qualquer forma, a perda dos documentos deverá dificultar ¿ ou pelo menos atrapalhar ¿ o trabalho de cobrança. De acordo com o ministério, alguns papéis estão armazenados em versões eletrônicas, mas ninguém sabe exatamente quantos processos foram destruídos.

A dívida ativa do INSS, segundo o último levantamento, divulgado em junho, é de R$ 97.221.769.380,31.

Machado contou que a Polícia Federal foi acionada e trabalhará na perícia para detectar as causas do incêndio. Um laudo conclusivo deverá ser divulgado em cerca de 15 dias. Segundo ele, ninguém se feriu no incêndio ¿ no momento em que o fogo começou havia apenas um funcionário, que conseguiu sair.

¿Teremos problemas com alguns processos desses setores que ainda estão em papel. Espero que até o fim da próxima semana estejamos trabalhando em linha para a recuperação desses documentos¿, disse. O ministro garantiu que a memória central da Previdência Social está preservada porque as informações estão armazenadas em sistemas informatizados, com cópias de segurança.

DIFICULDADES

Enquanto as chamas consumiam as instalações do prédio, documentos parcialmente queimados voavam pelas janelas que já estavam estilhaçadas. Não há dado preciso sobre o momento em que o fogo começou. A única informação oficial é de que o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal foi acionado às 7h13 e chegou ao local 8 minutos depois, quando o fogo já havia destruído o 6.º andar. Há apenas uma estimativa de que o incêndio teria começado por volta das 6h30.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, as chamas se alastraram rapidamente para outros seis andares do prédio. Além do departamento que cuidava dos autos de infração, foram atingidos os setores de logística, financeiro, recursos humanos e coordenação geral de tecnologia informativa. Há relatos de que inicialmente o combate teria sido feito por bombeiros profissionais civis, conhecidos como brigadistas, que atuam em outros órgãos da região.

O comandante da operação, coronel Sossígenes de Oliveira Filho, disse que, se o prédio tivesse uma equipe de brigadistas, especializada na prevenção, ¿provavelmente o incêndio não teria sido tão grande¿. ¿O incêndio poderia ter sido evitado¿, afirmou o presidente do Sindicato dos Bombeiros Profissionais Civis, Edilson Santana. ¿Nesse prédio era para ter no mínimo 16 bombeiros.¿

Sossígenes informou que cerca de 150 homens trabalharam no combate ao fogo e 17 viaturas foram usadas. Ele relatou que a equipe teve dificuldades porque encontrou problemas na pressurização do sistema de hidrantes do edifício. Como o prédio é antigo, não há sprinklers, que disparam água quando a temperatura do ambiente aumenta. O fogo foi controlado por volta das 10h15.