Título: Morales rejeita ajuda dos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Internacional, p. A10

LA PAZ - O governo do presidente eleito Evo Morales não vai mais aceitar ajuda econômica e militar dos Estados Unidos vinculada à luta contra as drogas. Foi o que informou ontem o porta-voz presidencial Juan Ramón Quintana. Ele ressaltou que a tarefa de combate ao narcotráfico não estará mais a cargo das Forças Armadas. O anúncio da medida, atribuída a ¿questões de soberania¿, ocorreu três dias antes do embarque de Morales a Cuba ¿ primeira viagem dele ao exterior como presidente eleito da Bolívia. Quintana, que chefia a equipe de transição do futuro governo, disse que a Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico (FELCN) converteu-se num apêndice do DEA (agência antidrogas americana). ¿Isso implica um enorme risco para a segurança do Estado¿, ressaltou ele. ¿Todos os organismos e atribuições institucionais devem retornar ao controle do Estado.¿

O assessor presidencial disse também que Morales está decidido a desvincular as Forças Armadas da tarefa de erradicação das plantações ilegais de coca, principalmente em Chapare (centro do país). Morales iniciou sua carreira política como líder dos plantadores de coca nessa região. ¿A polícia vai se encarregar de novo da tarefa de combate às drogas¿, adiantou Quintana. Contudo, o comandante da polícia, general David Aramayo, disse que a FELCN atua em conjunto com sua corporação. Ele também deixou claro que a missão de combate ao narcotráfico não pode prescindir da ajuda americana. ¿É evidente que os Estados Unidos nos dão um apoio importante nessa questão¿, destacou.

Chapare foi declarada zona ilegal para plantio da coca. Morales, que durante a campanha eleitoral prometeu legalizar totalmente essa atividade, quer permitir a plantação numa área de 1,6 milhão de metros quadrados dessa região. Ele alega que o plantio ali é necessário para a subsistência de várias famílias de agricultores pobres. Mas os EUA, que não cumprimentaram Morales pela vitória eleitoral, vetam a idéia.

Ainda ontem, Morales, dirigindo-se aos bolivianos, anunciou que vai fazer um corte de 50% em seus vencimentos de presidente. Ele passaria a receber então o equivalente a US$ 1,8 mil mensais. O novo presidente anunciou também decisão de suprimir os vencimentos dos 157 deputados suplentes do Congresso boliviano. ¿Vamos aplicar esses recursos na área social.¿