Título: 'Seu' Antonio estuda com os sete filhos
Autor: Nicola Pamplona e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Economia & Negócios, p. B14

Cleiane, Laiane, Deisiane, Adelaine, Juelaine, Johnny e Anderson são os sete filhos do casal Antonio de Jesus Ferreira e Adenilda Muniz Vieira. Migrantes da Bahia, os dois se instalaram no Jardim Conceição, periferia de Osasco, no fim da década de 80. Vieram em busca de oportunidades de trabalho e também de educação. Hoje, os sete filhos ¿ com idades entre 7 e 17 anos ¿ mais o pai, estudam todos na escola da Fundação Bradesco, instalada há dois anos no bairro. As crianças têm acesso à educação de qualidade superior à oferecida pelas escolas públicas da região e ¿seu¿ Ferreira freqüenta à noite a classe de alfabetização de adultos. Chega cansado, mas sabe que é preciso completar os estudos para ter mais oportunidades no futuro. Ele parou de estudar na terceira série do primário. ¿Pretendo completar o segundo grau¿, conta, vencendo a timidez.

As escolas da Fundação Bradesco ¿ que em 2006 completa 50 anos ¿ são o carro-chefe do programa de responsabilidade corporativa do banco. Foram criadas pelo fundador do Bradesco, Amador Aguiar, em uma época em que o conceito sequer existia. ¿Educação é a coisa mais importante na vida de uma pessoa¿, costumava dizer o banqueiro.

Com um investimento anual de R$ 156,6 milhões (valores de 2004), as atividades da Fundação Bradesco são custeadas por receitas provenientes dos juros sobre capital próprio e dividendos de sua participação acionária nas empresas da Organização Bradesco, além de doações das mesmas. Com 40 escolas presentes em todos os Estados brasileiros, a Fundação atendeu 108 mil alunos no ano passado. Eles têm acesso a ensino gratuito, alimentação, uniformes, material didático e assistência médica e odontológica. Tudo sem qualquer ônus para as famílias, selecionadas mediante rígido processo, onde são levados em conta critérios socioeconômicos. Alunos repetentes também são rejeitados. Na escola do Jardim Conceição, há 2.671 alunos matriculados e uma lista de espera de 50 crianças.

O salário de cerca de dois salários mínimos que ¿seu¿ Ferreira ganha como auxiliar de limpeza mantém com dificuldades as despesas da casa. Mas a filha mais velha, Juelaine, já trabalha como aprendiz na agência do Bradesco na Avenida Ipiranga, centro de São Paulo. Ela faz parte de outro projeto social do banco, o Adolescente Aprendiz. ¿Só falta meu pulmão secar de tanto eu falar para meus filhos estudarem, para conseguirem vagas como aprendizes depois¿ diz a mãe, Adenilda. ¿Só não gosto das aulas que eles têm sobre sexo¿, diz. Evangélica, ela não se conforma com os conteúdos de educação sexual das aulas de ciências.