Título: Índice dificultou entrada de produtos polêmicos
Autor: Nicola Pamplona e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Economia & Negócios, p. B14

RIO - É crescente a percepção, por parte das empresas, de que aplicar em ações de responsabilidade social pode render bons dividendos. O primeiro teste para comprovar essa mudança, porém, não privilegiou empresas famosas por produtos tidos como polêmicos ou que geram impacto ambiental. Coincidência ou não, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), lançado pela Bovespa em 5 de dezembro, deixou de fora a Souza Cruz, líder do mercado brasileiro de cigarros, a Ambev, número um em cervejas, e a Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo e maior exportadora brasileira. "Nós temos que ter clareza nos critérios, como eles se coadunam com critérios de outras bolsas que operamos e como organizamos isso de forma não conflituosa", afirma o diretor financeiro da Vale, Fabio Barbosa. De acordo com ele, a mineradora "foi insistentemente" solicitada a responder o questionário que a Bovespa usou para selecionar os integrantes do ISE. A lista continha perguntas específicas sobre os produtos considerados "polêmicos". A Vale investiu R$ 54 milhões em ações na área este ano.

A Souza Cruz está em contato com a FGV, que elaborou o questionário de seleção para o ISE, para averiguar se as perguntas referentes a produtos polêmicos tiveram maior peso na escolha das empresas que integraram o índice este ano. "O fato de termos um produto controverso não pode excluir a empresa de participar de um índice como esse", afirma José Roberto Cosmo, gerente de planejamento e estratégia de assuntos corporativos. Por ano, a empresa investe cerca de R$ 180 milhões no social.

O superintendente de operações da Bovespa, Ricardo Nogueira, explica que empresas que vendem produtos nocivos já iniciam a disputa com pontuação negativa e têm que compensar esse fato em outros indicadores. Ou seja, não basta ter investimentos em projetos sociais, já que o processo de qualificação também considera políticas de recursos humanos e o nível de periculosidade dos produtos vendidos pela companhia.