Título: Fundos ligados à ação social obtêm rentabilidade mais alta
Autor: Nicola Pamplona e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2005, Economia & Negócios, p. B14

RIO - Boa imagem junto ao consumidor é fundamental, mas não é a única razão para os crescentes investimentos em ações sociais e ambientais no País. Há uma percepção cada vez maior de que empresas socialmente responsáveis ganham também do ponto-de-vista financeiro, com maior acesso ao mercado de capitais e, até, melhor classificação de risco. Não é à toa que pipocam os fundos de investimentos voltados só para este tipo de companhia. No início de dezembro, a Bovespa entrou na roda e lançou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), carimbo que garante ao investidor que está colocando seu dinheiro em ativos menos suscetíveis a problemas no futuro. Especialistas no setor admitem que é difícil dimensionar o volume de recursos aportados em ações sociais, mas o Instituto Ethos de Responsabilidade Social aponta alguns números: hoje, 260 empresas brasileiras publicam balanços sociais e 580 preenchem o questionário dos indicadores Ethos, distribuídos todos os anos às empresas brasileiras. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que, em 2004, 59% das empresas das Regiões Sudeste e Nordeste investiam em algum projeto social. O Ipea voltou a campo este ano para avaliar as empresas das Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul.

"Uma boa política sócioambiental é fator adicional de credibilidade e aumenta a confiança que o mercado pode ter numa companhia", diz o o diretor da agência de análise de risco Standard & Poor's, Reginaldo Takara. O raciocínio é simples: quem investe nas comunidades próximas às suas atividades ou em medidas para reduzir danos ao meio ambiente está menos sujeito a ações judiciais ou multas de órgãos ambientais, diz o superintendente de operações da Bovespa, Ricardo Nogueira.

Pelo menos três grandes bancos - Banco do Brasil, Itaú e Unibanco - planejam o lançamento de fundos de investimento em empresas socialmente responsável, diz o presidente do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, Ricardo Young. Seguem o exemplo do Real, que há quatro anos lançou o primeiro produto do tipo no País, o Fundo Ethical. Hoje com uma carteira de R$ 100 milhões em ações de empresas responsáveis, o banco colhe os frutos para seus clientes: segundo o CEO do ABN Amro Asset Management, Luiz Eduardo Maia, o Ethical 1, primeiro da série, acumula rentabilidade de 187% desde que foi criado, em novembro de 2001, ante os 165% do Índice Bovespa. "Nos Estados Unidos, fundos específicos para este tipo de empresa movimentam mais de US$ 1 trilhão", diz o executivo.

O acesso a este dinheiro, além de maiores possibilidades de fechar operações com instituições financeiras bilaterais, é apontado por Takara, da Standard & Poor's, como um dos impactos positivos na análise de classificação de risco de companhias que investem no social: "Diretamente, não analisamos ações sociais na hora de classificar uma empresa. Mas, indiretamente, se ela ganha maior acesso ao mercado de capitais, com certeza ganhará pontos na avaliação de suas finanças".

Diretor financeiro da Companhia Vale do Rio Doce, Fabio Barbosa atesta que há retorno financeiro gerado pelos investimentos sociais que a mineradora faz em cidades onde também exerce impacto ambiental e econômico. "O fato é que você tem retorno, sim, de percepção de imagem da empresa que acaba se refletindo, de uma forma pouco objetiva, talvez, no valor das ações, porque você acaba sendo pontuado como empresa", afirma.

Nogueira, da Bovespa, cita o Sustentability Index, que reúne empresas socialmente responsáveis cotadas na Bolsa de Nova York, como exemplo de que o mercado está atento à postura das companhias. Segundo ele, nos últimos 12 anos as empresas do índice se valorizaram 186%, bem mais que os 100% de crescimento do Índice Dow Jones. Em Londres, o FTSE for Goods, índice de responsabilidade social, cresceu 29,1% em 5 anos, ante os 14% de alta registrados pelo índice geral negociado na City londrina.