Título: Indicador avalia a possibilidade de calote
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

Ao contrário do que muitos pensam, não há nada de errado no fato de o risco Brasil ser maior que o de países com menor desenvolvimento econômico-social, como o Peru, ou que tenham conflitos sérios, como a Colômbia, que vive há décadas em guerra civil. Na verdade, o risco país mede exclusivamente a probabilidade, definida pelo mercado, de que uma determinada nação não honre os seus compromissos externos assumidos com a emissão de títulos no mercado internacional. Portanto, um país mais pobre com uma dívida em títulos menor pode, muitas vezes, ter um risco menor do que um mais rico e mais endividado. Diferentemente do rating conferido pelas agências internacionais de classificação, o risco país não envolve uma análise qualitativa. Criado pelo banco de investimentos americano JP Morgan, o número é a resultante de uma fórmula. Seu valor oscila ao longo do dia, como a cotação de uma ação ou de uma moeda, ao sabor das variações nos preços dos títulos internacionais dos países.

O índice Embi+ do JP Morgan, a base de cálculo do risco de cada país, é uma média ponderada dos spreads de dezenas de títulos de um grupo de emergentes, em relação aos títulos do Tesouro americano de características equivalentes. O spread é quanto um papel, por ser mais arriscado, rende mais do que o título do governo americano equivalente. Assim, se um bônus de um emergente rende 5,5% ao ano, e o título do Tesouro dos EUA de características equivalentes rende 4%, o spread é de 150 pontos.

Quando se diz, por exemplo, que o Embi+ fechou quinta-feira em 240, isto significa que a rentabilidade média dos principais títulos externos ¿ ponderados pela liquidez e pelo volume ¿ daquele grupo de emergentes fechou com um spread de 2,4 pontos porcentuais. O risco país de cada nação nada mais é do que o mesmo cálculo para a porção de títulos que ela detém dentro do Embi+. Assim, o risco Brasil é o spread que os títulos brasileiros, ponderados pela liquidez e volume, pagam acima dos títulos do Tesouro americano de características semelhantes. Como todos esses títulos variam de preço ao longo de um dia de negociação, e a sua rentabilidade varia junto, o Embi+ e o risco de cada país também oscilam continuamente.

O Brasil tem 27 títulos representados na fórmula geral do Embi+. O risco Brasil, naturalmente, é a fórmula que fica com esses 27 papéis, e exclui todos os outros dos demais emergentes que fazem parte do Embi+. A grande maioria dos títulos brasileiros que definem o risco é de bônus globais, lançados em condições normais no mercado internacional, quando o Brasil já havia superado totalmente a reestruturação da dívida externa nos anos 80 e 90. Uma pequena minoria ainda é composta pelos bônus Brady, que são justamente esses papéis reestruturados. Como o Brasil recomprou recentemente todos os C-Bonds, o principal Brady brasileiro no Embi+ foi retirado. Hoje, o principal título brasileiro na composição do risco país é o bônus global com vencimento em 2040, o papel brasileiro mais negociado no exterior.