Título: Crise dificulta queda do risco país
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

Apesar de estar muito próximo de ficar abaixo da marca histórica de 300 pontos, o risco Brasil caiu menos em 2005 do que o do conjunto de países que são avaliados na mesma categoria (Embi +) pelo banco de investimentos JP Morgan, que criou o risco país. Segundo diversos analistas, os principais fatores que impediram uma queda ainda maior do risco Brasil este ano foram a crise política e o crescimento muito abaixo da média dos outros emergentes. E o que ajudou todos os países a melhorar foi a grande liquidez internacional, num cenário de juros baixos e crescimento global dos mais favoráveis das últimas décadas para os emergentes.

Enquanto o risco Brasil caiu 20,7% ao longo do ano, saindo de 382 para 303 pontos, o de todos aqueles países (excluindo Brasil e Argentina) caiu de 264 para 199 (até quinta-feira), uma redução de 24,6%. A Argentina é retirada do cálculo porque seu risco teve uma variação artificial no ano e, por isso, distorce o resultado do conjunto.

Alguns países que tiveram queda do risco maior que a do Brasil foram o México, com 26,5%, que levou o índice para 122; a Rússia, com queda de 47%, indo para 113; e a Venezuela, com redução de 22,6%, com o risco caindo até 318. O risco da Argentina teve a maior queda, de 89,5%, de 4.703 para 496 pontos. Neste caso, porém, a maior parte da melhora teve uma razão artificial: os títulos em default foram retirados do índice em junho, o que levou a uma queda de 6.607 para 910 pontos de um dia para o outro. Todos os dados vão até o fechamento de quinta-feira.

A maior parte dos analistas prevê que o risco Brasil vai continuar em queda, e pode em breve ficar abaixo de 300 pontos. Para Gino Olivares, economista-chefe do Opportunity Asset Management, ¿não só o risco Brasil deve cair abaixo de 300, mas também há todas as condições para que ele permaneça abaixo desse nível¿.

Os fatores por trás da tendência de queda são a contínua melhora da situação externa do Brasil, com a grande liquidez internacional e as maciças doses de compra de dólares e oferta de swaps cambiais reversos pelo Banco Central; o fato de que o auge da crise política já ficou para trás; e o crescimento de 2006, projetado para ser substancialmente maior que o de 2005. A maior ameaça à trajetória de queda do risco Brasil, de outro lado, como frisa Alexandre Pavan Póvoa, diretor responsável do Modal Asset Management, no Rio, seria o crescimento de ¿uma candidatura aventureira¿ nas eleições presidenciais do próximo ano.

Para Fábio Akira, economista do JP Morgan em São Paulo, ¿o Brasil surfou a onda de liquidez internacional em 2005, mas foi um pouco prejudicado pela crise política e pelo fato de que, na comparação com outros países, não estamos crescendo muito¿. Ele observa que o conjunto dos emergentes, incluindo os asiáticos (este é um grupo bem mais amplo do que o dos países do Embi+), deve crescer 5,7% em 2005, mais que o dobro da projeção de 2,4% que o JP Morgan tem para o Brasil.

Na verdade, o Brasil atrasou-se ainda mais em relação ao resto dos emergentes este ano. Em 2004, o conjunto de países já havia crescido 6,8%, 1,9 ponto porcentual a mais que o Brasil. Em 2005, a diferença deve subir para 3,3 pontos porcentuais.

Na comparação com outros países importantes que estão no grupo Embi+, o Brasil também fica na lanterna do crescimento em 2005. Segundo as projeções do JP Morgan, a Argentina deve crescer 8,6%, a Turquia 5,2%, a Rússia 5,9%, a Venezuela 9,5% e o México 2,9%. Apesar da grande contribuição da economia global, os analistas em geral ressaltam que o Brasil teve méritos em aproveitar a situação para fortalecer sua posição externa, o que contribuiu para a forte queda do risco durante o ano. Segundo Póvoa, do Modal, ¿não há como fazer uma separação exata de quanto é devido ao esforço próprio e quanto é simplesmente o efeito da liquidez internacional abundante, mas a componente doméstica desta melhora existe, e é importante.¿