Título: Dívida externa atinge o menor valor em 9 anos
Autor: Gustavo Freire, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

Com US$ 183,151 bilhões em setembro, montante devido pelo País pode cair ainda mais com a quitação de US$ 15,46 milhões ao FMI

A dívida externa brasileira atingiu a marca dos US$ 183,151 bilhões em setembro e bateu em seu menor valor desde dezembro de 1996. "Até o fim do ano, a dívida deverá cair mais e chegar a um valor próximo dos US$ 160 bilhões", disse o economista Antônio Corrêa Lacerda, professor da PUC de São Paulo. A redução adicional seria puxada pela quitação antecipada da dívida com o Fundo Monetário Nacional (FMI) por meio do pagamento de US$ 15,46 bilhões até o fim do ano. Os dados divulgados ontem mostram também que, de janeiro a novembro, o Banco Central (BC) já comprou cerca de US$ 17,454 bilhões. O valor é maior que os US$ 16,046 bilhões de recursos que ingressaram no País no mesmo período.

A redução na dívida, que em junho estava em US$ 191,3 bilhões, foi puxada por um pagamento de US$ 5 bilhões ao FMI, alguns vencimentos de títulos da dívida externa (bônus, que somaram US$ 2,5 bilhões) e também por pagamentos de dívida pelo setor privado - que somaram US$ 2,7 bilhões.

A dívida menor, na opinião de Lacerda, abrirá espaço para o País melhorar seus indicadores de solvência externa, que mostram a capacidade do Brasil de pagar seus compromissos com o exterior. "Com exportações de US$ 120 bilhões, nós teremos ao final do ano uma relação entre dívida e exportações correspondente a 1,4 vez. Este é um bom número", disse o economista. Em 2002, a razão entre dívida e exportação chegou a bater nas 3,5 vezes. Ou seja, para cada dólar exportado havia 3,5 dólares de dívida, o que apontava para um sério risco de calote na dívida externa.

A melhora dos indicadores, na visão do economista da PUC de São Paulo, poderá abrir espaço para que o País alcance o grau de investimento - "investment grade", classificação dada pelas agências internacionais que abre as portas dos vultosos investimentos dos fundos de pensão de países desenvolvidos - ainda em 2007. "A grande questão pendente é saber qual nossa real capacidade de reduzir a dívida líquida do setor público", disse, acrescentando que este é importante fator de vulnerabilidade da economia brasileira.

Para garantir a consolidação da melhora dos indicadores de solvência externa, Lacerda acredita que o governo precisará trabalhar para evitar que volte a acontecer uma valorização excessiva da taxa de câmbio e promover uma queda ainda mais forte do passivo externo, que é o conjunto das despesas do País em dólar por ano. "O nosso passivo externo ainda é alto", disse, recomendando a recompra de títulos da dívida externa.

Para o economista, o dólar em torno de R$ 2,70 no primeiro semestre de 2006 seria positivo para garantir um bom desempenho das exportações de produtos mais sofisticados, e não só de commodities. Lacerda também acha que o Banco Central deve, ao mesmo tempo, manter a política de recomposição das reservas .

US$ 183,1 bilhões

é o valor da dívida brasileira em setembro, o menor em 9 anos

US$ 160 bilhões

é o valor a que pode chegar a dívida externa até o fim deste ano

US$ 15,46 bilhões

é o valor do pagamento antecipado ao FMI

US$ 17,4 bilhões

é quanto o BC já comprou de janeiro a novembro deste ano

US$ 16,04 bilhões

é o total de recursos que ingressaram no País no mesmo período

US$ 120 bilhões

é o total das exportações previsto para este ano