Título: Área cambial continuará tranqüila
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Um exame da evolução das contas externas nos 11 meses do ano comprova que o Brasil está em condições de enfrentar com tranqüilidade qualquer eventual perturbação no mercado financeiro internacional, e que a decisão de reembolsar antecipadamente a dívida com o FMI não foi apenas uma manifestação de soberania, como proclamou o presidente da República, mas fruto de um trabalho na melhora da situação cambial. O superávit do balanço de pagamentos foi de US$ 4,358 bilhões em novembro, com um acumulado de US$ 14,994 bilhões no ano, ante um déficit de US$ 108 milhões no mesmo período de 2004. O saldo positivo das transações correntes ficou, em novembro, em US$ 1,737 bilhão e, nos 11 meses do ano, em US$ 13,7 bilhões, valor superior em 32,7% ao do mesmo período de 2004. Esse resultado se deveu, essencialmente, ao saldo positivo da balança comercial, de US$ 40,4 bilhões, com aumento de 34,1% em relação ao mesmo período de 2004. O BC estima que o superávit em conta corrente do ano será um pouco menor - US$ 13,6 bilhões -, mas o mercado é mais otimista, prevendo que chegará a US$ 14,5 bilhões. De qualquer maneira, com reservas de US$ 50,8 bilhões - excluído o empréstimo do FMI, que o Brasil reembolsará antes do final do ano -, não existem preocupações com o serviço da dívida em 2006. Com as captações já realizadas, o BC pode pagar, sem dificuldades, o principal e os juros dos seu compromissos externos de 2006. Isso é particularmente tranqüilizador no momento em que se prevê que, no próximo ano, poderá ser mais difícil captar recursos externos a uma taxa de juros razoável . Em novembro, os investimentos estrangeiros diretos (IED) atingiram US$ 1,525 bilhão, e, em 11 meses, US$ 17,185 bilhões, valor praticamente igual ao do ano passado. Neste mês poderão atingir US$ 1 bilhão. Seria necessário atrair mais IEDs em 2006, uma vez que geram empregos internos, permitem aumentar as exportações e ainda transferem tecnologias. Reconheçamos que o Brasil tem feito muito pouco para atrair mais capitais do exterior. Temos de prever que a conta de serviços apresentará um déficit crescente, que poderemos cobrir com o superávit da balança comercial, num contexto internacional cada vez mais difícil, especialmente com a concorrência dos produtos chineses, que invadem o País e inibem a consolidação da conquista de mercados externos. O Brasil deveria abrir uma larga porta para operações do tipo Parcerias Público-Privadas (PPPs) para o capital estrangeiro, a fim de apressar investimentos em infra-estrutura que o orçamento governamental não pode assumir sem graves problemas.