Título: Vice-presidente deverá ser o planejador do governo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2005, Internacional, p. A12

Álvaro García tentará aplacar temores da classe média com slogans de campanha do tipo 'os índios no poder'

O matemático, sociólogo e ex-guerr ilheiro Álvaro García Linera, vice-presidente eleito da Bolívia, deverá ser a eminência parda do líder indígena Evo Morales e de seu governo. Aos 43 anos, García Linera, chegou para acalmar os intelectuais e a classe média, inquietos com certos slogans da campanha eleitoral, como o que rezava "os índios no poder". A chapa Morales-García foi qualificada pelos opositores políticos como o binômio "do índio e do branco", "do poncho e da gravata" ou "do analfabeto e do intelectual". Essa fórmula representa uma aliança "da classe indígena e do movimento popular com os intelectuais e os profissionais liberais", explicou Morales recentemente.

Com um caráter mais autoritário, o companheiro de chapa de Morales não será um mero adorno no governo. Este brilhante intelectual de idéias radicais aparece claramente como o pensador do futuro governo. "É um intelectual de visão", disse à France Presse um membro influente do Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales.

Partidário de um Estado forte, que detenha a propriedade das riquezas naturais do país, Álvaro, como o chamam os militantes, é conhecido por ter idéias sobre todos os temas.

Universitário de esquerda, comentarista de TV e analista político, o principal ideólogo do MAS deixou de lado muitas de suas idéias mais radicais E dedica-se a explicar o programa do partido. Ele anunciou que o governo buscará a aliança "poncho-gravata" entre os indígenas e a classe média ocidentalizada.

Alvaro García integrou no fim dos anos 80 a guerrilha esquerdista Tupak Katari ao lado do atual líder aimara Felipe Quispe (ultranacionalista). Preso em 1992, García passou cinco anos na cadeia, sem passar por um julgamento definitivo. Os analistas estimam que García ajudou o MAS a estender sua influência eleitoral para o centro político e tranqüilizar a classe média.