Título: Lula pede unidade de ministros na defesa do governo para reagir à crise
Autor: Vera Rosa, João Domingos, Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2005, Nacional, p. A4

Durante reunião ministerial, presidente também manda equipe acabar com o fogo amigo no ano eleitoral

Na última reunião ministerial do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem duas determinações à sua equipe: defender o governo do bombardeio da oposição e acabar com o fogo amigo no ano eleitoral de 2006. Em pronunciamento a portas fechadas, no Palácio do Planalto, Lula disse que é preciso unificar o discurso do time para divulgar realizações de seu governo, reverter o desgaste acumulado e não deixar a crise política dominar a agenda no último ano de mandato. "Vocês não podem ter vergonha de defender o governo", cobrou Lula. "Nós temos resultados para mostrar em todas as áreas. Então, vamos partir para o enfrentamento."

Depois de ouvir queixas de auxiliares sobre o aperto financeiro, Lula avisou que fará uma reunião com a equipe econômica ainda nesta semana para tratar da liberação de investimentos em infra-estrutura, na casa de R$ 2 bilhões.

"O presidente determinou que cada ministro seja protagonista da defesa do governo, que se aproprie do conjunto da obra, e não apenas de suas pastas. Pediu unidade política nesse processo", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. "Temos orgulho daquilo que foi construído e que nos dá energia para enfrentar esse ano de desafio eleitoral", emendou, numa referência à provável candidatura de Lula a um segundo mandato.

Mas logo depois Wagner disse que o presidente ainda não decidiu se vai concorrer e se corrigiu: "Quem atravessou oito meses de bombardeio sem usar a caneta contra a responsabilidade na economia não o fará só por causa de um ano eleitoral."

ESCÂNDALO

Diante de 33 ministros, o presidente insistiu que é o PT - e não o governo - quem deve responder por seus erros no escândalo do mensalão. Disse que é preciso acabar com as divergências na Esplanada porque 2006 é um ano crucial. A ordem do Planalto é pôr um pacote de "realizações" na rua para se contrapor ao governo de Fernando Henrique Cardoso.

"Todos os números deste governo são muito melhores do que os do anterior", garantiu o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. "Temos a humildade de compreender que mais poderia ter sido feito, mas é possível afirmar com números que o governo Lula teve desempenho muito melhor em todos os segmentos." Questionado sobre o desgaste da administração petista, demonstrado nas últimas pesquisas, Ciro desconversou com clichê: "Pesquisa é retrato de um momento."

Preparada para a abertura da reunião ministerial, que durou 11 horas, uma apresentação audiovisual lembrava que o objetivo do encontro era "articular e unificar o governo e o discurso em relação às realizações e as perspectivas para 2006". Lula optou por um pronunciamento sem transmissão pela Radiobrás. Preocupado com a crise, pediu aos ministros que reajam aos ataques da oposição com informações consistentes, cobrando o fim do fogo amigo.

A queda-de-braço por mais recursos para investimentos em 2006 ainda é travada nos bastidores entre Dilma Rousseff (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), defensor do aperto fiscal. Escalado para fazer um briefing da reunião aos jornalistas, ao lado de Wagner, Ciro disse que a divisão na equipe não passa de "intriga da oposição e de setores da imprensa". "Que metade (do governo) defende juro alto?", perguntou. "Todos nós compreendemos que a política econômica é a possível."