Título: RO: governo cede e acaba a rebelião
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2005, Metrópole, p. C4

O motim no Presídio Urso Branco, em Porto Velho (RO), terminou às 14 horas de ontem, com a volta do preso Edinildo Paulo de Souza, o Birrinha, de 27 anos - cuja transferência tinha sido o estopim da rebelião, iniciada no domingo. Para forçar o retorno do condenado, os presos diziam ter executado 16 detentos rivais, mas ontem as autoridades descobriram que eles tinham blefado: o motim acabou sem o registro de mortes. Logo depois da volta de Birrinha, os 194 visitantes que permaneciam nos pavilhões desde domingo deixaram o local. Cinqüenta policiais militares entraram nas alas anteriormente controladas pelos presos.

O Gabinete de Gerenciamento de Crises, formado por representantes do governo de Rondônia, da Vara de Execuções Penais e da Comissão de Direitos Humanos, anunciou que pela primeira vez não houve mortes em uma rebelião prolongada no Urso Branco. O presídio é conhecido pela violência - 14 pessoas morreram em um motim em 2004 e Birrinha foi acusado de degolar algumas delas. Oficialmente, o gabinete argumentou que optou por preservar a vida dos reféns e por isso decidiu ceder e devolver Birrinha. Durante as negociações, os presos pediram tratamento melhor aos visitantes e atendimento médico de melhor qualidade.

O promotor Amadeu Sikorski Filho, de 41 anos, não será afastado do setor de Execuções Penais, como os condenados exigiam. A rebelião aconteceu porque ele decidiu transferir Birrinha para o presídio de segurança máxima de Nova Mamoré, a cerca de 200 quilômetros de Porto Velho.

Sikorski disse ser inadmissível que detentos decidam sobre transferências e criticou o poder que os condenados têm no presídio. Apesar disso, integrantes do gabinete assinaram acordo com os presos, garantindo que não haverá novas transferências no Urso Branco.

O secretário de Segurança, Renato Eduardo de Souza, de 31 anos, disse que a polícia já suspeitava que ninguém havia sido executado na rebelião. "Acompanhamos as fitas de vídeo e percebemos que os golpes em reféns eram simulados."

Souza disse que seu maior temor era com o risco de uma tentativa de fuga em massa, prevista para a noite de ontem. Mas, numa vistoria feita pela Polícia Militar, não foram achados túneis no presídio.