Título: Triste sina de quem não tem lobby
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2005, Nacional, p. A8

Em meio ao puxa-estica e à batalha de sempre pelos milhões do orçamento, o relator Carlito Merss (PT-SC) anunciou anteontem um pacote extra de R$ 10 bilhões e, com ele, duas verdades. A primeira: "Leva mais quem tiver mais lobby" - uma honesta e perfeita definição da república, tal qual é praticada no Brasil. Ou seja, os recursos não vão para quem mais precisa, mas para quem tiver votos, instrumentos, advogados e esperteza para chegar primeiro e segurar seu pedaço. A segunda verdade, um pouco mais sutil, é que mais uma vez o derrotado será o contribuinte - que tem nessa história o desprezível papel de pagador de todas as contas. Pois entre quatro áreas que, segundo Merss, podem receber esses bilhões despontam forças respeitabilíssimas - os sindicatos de servidores públicos, os do salário mínimo (que sabem quanto custa um voto das classes D e E) e uma penca de projetos da saúde, dos quais não tiram os olhos os hospitais particulares. Cada um, por certo, levará seu naco de R$ 3 bilhões ou mais. A quarta saída seria corrigir a tabela do Imposto de Renda. Mas, pensando bem, para quê?