Título: BC é menos otimista do que governo
Autor: Adriana Fernandes e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Depois da desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira em 2005 por causa dos juros elevados, o Banco Central (BC) previu ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) do País vai aumentar 4% em 2006, último ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso não seja reeleito.

A projeção, incluída no relatório trimestral de inflação do BC, é mais pessimista do que a de vários integrantes do governo e contrasta com também com a estimativa feita na semana passada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e pelo próprio presidente Lula, de que a economia deve crescer 5% no ano que vem.

Apesar da previsão mais conservadora, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua, não deu sinais de que o Comitê de Política Econômica (Copom) vá acelerar a redução dos juros para garantir o crescimento de 5%, como já pediram vários ministros, políticos e empresários.

Se confirmado, o crescimento previsto pelo BC para 2006 - ano de eleições presidenciais - será menor do que os 4,9% registrados em 2004.

Mas, segundo Bevilaqua, "nada impede" que a alta do PIB em 2006 seja maior do que os 4% estimados pelo BC. Para efeito de cálculo, essa projeção leva em conta a manutenção da taxa Selic em 18% ao ano até o final de 2006.

Para 2005, na primeira projeção oficial depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o PIB caiu 1,2% no terceiro trimestre, o BC reduziu a projeção de crescimento de 3,4% para 2,6%.

No início do ano, o BC chegou a prever uma expansão de 4% da economia, mas a projeção caiu ao longo dos meses, com o impacto negativo dos juros altos.

Bevilaqua evitou um confronto com a previsão de 5% de Palocci. "Tem de perguntar ao ministro Palocci. Ele conhece a projeção do BC."

O diretor lembrou que, no final de 2003, o BC previu, no relatório de inflação, um crescimento de 3,5% do PIB em 2004. O resultado, porém, foi maior: crescimento de 4,9%. "Em 2004, a expectativa do ministro era superior a 3,5%, e ele acertou e o BC errou", observou Bevilaqua, acrescentando que, do ponto de vista do Banco Central, o fundamental é que a política monetária seja conduzida de forma que o crescimento se aproxime "mais e mais das expectativas que estão sendo feitas pelo ministro".

Apesar da redução da estimativa de crescimento para 2005, o diretor afirmou que a expansão do PIB este ano será maior do que a média observada entre 1995 e 2002, de 2,3% . "Quando se olha para o resto do mundo percebemos uma distância, mas quando você olha para a nossa experiência interna há uma melhora. Não se sai de um crescimento de 0,5%, em um determinado ano para ser a economia que mais cresce no mundo."

Para Bevilaqua, o ritmo de atividade já mostra aceleração no quarto trimestre, processo que, segundo ele, terá continuidade em 2006.

Segundo ele, os motivos que vão assegurar o crescimento são a continuidade do aumento do nível de emprego, a alta progressiva da massa salarial, o reequilíbrio dos estoques no setor produtivo e a flexibilização em curso da política monetária.

Ele destacou que, para 2006, o BC estima um crescimento dos investimentos de 6,6%, ante 1,3% previsto para 2005. "As incertezas são muito menores do que no passado. Há seguramente uma trajetória saudável de crescimento."

Pelas projeções do BC, o setor agropecuário terá um crescimento de 4,8%, a indústria, de 5,3% e o setor de serviços, de 2,1%.