Título: Preço do álcool sobe até maio
Autor: Renée Pereira e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

O preço do álcool combustível ao produtor subiu 32% neste ano no Estado de São Paulo e deverá aumentar ainda mais até maio. A previsão é do diretor do Departamento de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Angelo Bressan. Segundo ele, o aumento da demanda continuará pressionando o preço do combustível, mas o risco de desabastecimento do País está completamente afastado.

Só nas três primeiras semanas de dezembro o preço do álcool subiu 15% em São Paulo, Estado responsável por mais de 75% da produção nacional. Desde 25 de novembro, a alta já chega a 21%, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea-USP).

O reajuste foi repassado ao consumidor com aumentos que chegaram a 24%, como ocorreu na Noroeste do Estado, uma das principais regiões produtoras do Estado, onde o preço do álcool passou de R$ 1,29 para R$ 1,60 nas bombas dos postos de combustíveis. Na média, o litro do álcool combustível passou a custar no Estado de São Paulo R$ 1,387, segundo a última pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP), feita entre o dia 18 e 24 de dezembro. No início do mês, entre 4 e 10 de dezembro, o levantamento mostrava um preço médio de R$ 1,297 o litro do combustível.

Na cidade de São Paulo, a última pesquisa da ANP mostrou que o álcool bateu a máxima de R$ 1,699. Em Estados como Mato Grosso, Distrito Federal e Rio Grande do Sul o preço médio atingiu R$ 1,852, R$ 1,726 e R$ 2,053, respectivamente.

Normalmente nesta época do ano já há uma pressão maior sobre o preço do álcool por causa do fim da safra na região Centro-Sul. Mas, este ano, o mercado contou com o aumento da demanda por causa dos carros bicombustível, afirma Bressan.

Segundo dados da Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea), até novembro, 51,6% dos carros novos vendidos eram bicombustível. No ano passado, esse número estava em 21,6%. São cerca de 1,1 milhão de carros bicombustíveis rodando no País, diz Bressan.

Ele afirma também que, além do aumento da demanda, houve uma quebra de safra. Na região Centro-Sul, deve-se verificar uma produção de 339 milhões de toneladas de cana ante a expectativa de 345 milhões de toneladas. No Nordeste, a safra deve ter 10 milhões de toneladas a menos. Apesar disso, a produção de álcool aumentou cerca de 1 bilhão de litros neste ano, para 14,5 bilhões. Bressan lembra ainda que o Brasil tem compromissos externos e precisa cumprir contratos firmados para a exportação de produtos.

O diretor do Ministério da Agricultura garante que a demanda será atendida. "Teremos possivelmente um acréscimo de 30 milhões de toneladas de cana na próxima safra, resultado da construção de cerca de 30 novas unidades e ampliação de outras usinas." Ele afirma que o ajuste de preços no mercado será feito pelo próprio consumidor com a flexibilidade dos carros bicombustível. Bressan afirma que o álcool será vantajoso até quando seu preço estiver em 75% do valor da gasolina.

Para o presidente da União das Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner, queda de preços só deve ocorrer a partir de abril ou maio com a entrada da próxima safra, mas diz acreditar não haver mais espaço para novos aumentos. "Se houver aumentos, a margem de preços entre gasolina e álcool não vai compensar e donos de veículos flex vão preferir a gasolina."