Título: Mais exportações em 2006
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2005, Notas e Informações, p. A3

O comércio exterior deverá garantir ao País em 2006, ano de eleição presidencial, uma robusta blindagem contra a especulação financeira, se as projeções da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) estiverem corretas. O Brasil deverá acumular um superávit comercial de US$ 42,2 bilhões, segundo o cenário-padrão projetado. Na hipótese pessimista, o resultado ficará em US$ 37,1 bilhões e será o segundo maior saldo registrado na história do País. Se o quadro mais otimista se confirmar, será atingido o recorde de US$ 45,5 bilhões. Na hipótese-padrão, apresentada como a mais provável, o volume exportado crescerá 7%, acompanhando o ritmo do comércio internacional, e os preços de exportação deverão aumentar entre 1% e 2%.

A combinação desses números dará uma receita de cerca de US$ 129 bilhões, 8,9% maior que a estimada para este ano. Essa expansão será igual à estimada para o comércio mundial pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

A hipótese-padrão é moderada. Desde o ano 2000, as exportações brasileiras têm crescido mais velozmente que o comércio mundial. O cenário considerado mais provável, portanto, inclui uma perda de dinamismo, com evolução menos favorável dos preços internacionais - queda de 2,1% para as commodities, excetuados os combustíveis - e câmbio ainda valorizado, provavelmente abaixo de R$ 2 por dólar. No mercado financeiro, a mediana das projeções para 2006 aponta um câmbio de R$ 2,40 por dólar no fim do ano e de R$ 2,34 na média do período.

As estimativas de exportação têm sido amplamente superadas pelos fatos nos últimos anos. No começo do ano, as projeções mais comuns apontavam como provável um crescimento de exportações da ordem de uns 10% neste ano.

Até 25 de dezembro o País faturou com vendas ao exterior US$ 116,3 bilhões, 23,1% mais do que no período correspondente de 2004. As importações, no valor de US$ 72,3 bilhões, também se expandiram mais que o previsto, com uma variação de 17,4%.

Tão surpreendente quanto esses números foi o desempenho do comércio exterior em dezembro. Até o dia 25, o valor exportado ficou 31% acima do registrado um ano antes. O valor importado foi 26,8% superior ao de igual período de dezembro de 2004. O saldo acumulado até a penúltima semana do ano foi o maior da história, desde que se fazem essas estatísticas: US$ 44 bilhões, 33,2% superior ao de um ano antes.

Os números foram divulgados no dia 26 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No começo do ano, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, projetava exportações de US$ 108 bilhões neste ano, 12% maiores que as de 2004. A estimativa foi elevada para US$ 112 bilhões no fim de março.

A maior surpresa foi a expansão das vendas apesar da valorização cambial. Em novembro, o real valia 18,3% mais do que um ano antes, em relação a uma cesta de 13 moedas dos principais parceiros comerciais do Brasil, levando-se em conta a evolução dos preços por atacado. O cálculo foi divulgado na semana passada pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior. Na média, o índice de rentabilidade das exportações caiu 9,6% em 12 meses.

Várias hipóteses têm sido propostas para explicar o avanço das exportações em condições cambiais desfavoráveis. Segundo uma das mais interessantes, parte do empresariado brasileiro aprendeu a dar importância ao comércio exterior, batalhou para conquistar clientes e fará um grande esforço para não perder mercado.

Outra explicação acentua as possibilidades de lucro com os juros elevados. Os exportadores descontam seus dólares com rapidez, aplicam os reais no mercado financeiro e, com esses ganhos, compensam pelo menos parcialmente a desvantagem cambial. Em contrapartida, operações desse tipo contribuem para manter em baixa a cotação do dólar.

Outros lembram os avanços de produtividade obtidos nos últimos anos. Cada uma dessas explicações contém, provavelmente, uma parte da verdade.

Em 2006 será possível testar, mais uma vez, até que ponto os exportadores poderão enfrentar o obstáculo cambial. Pelas projeções, ainda terão um fôlego razoável para avançar.