Título: De novo, queixas de traição sem citar traidor
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2005, Nacional, p. A4

Pela segunda vez desde que começaram as denúncias contra o governo e o PT, em junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se referiu a uma traição, mas sem apontar quem seria o traidor. Apesar de não ter recorrido, na entrevista ao Fantástico, à palavra "traição", o presidente definiu a seqüência de revelações envolvendo lideranças petistas e alguns de seus auxiliares diretos no Planalto como "uma facada nas minhas costas". Ele se recusou a esclarecer a queixa, dizendo que não interessava identificar "A, B ou C". Não é a primeira vez que Lula se diz traído, sem apontar o traidor. A mesma estratégia foi usada em seu primeiro discurso público sobre a crise, feito em cadeia de televisão no dia 12 de agosto. Na ocasião, Lula afirmou ter-se sentido traído - mas não deu detalhes a respeito. O ex-ministro José Dirceu defendeu-se, depois, dizendo que não se sentia um traidor.

"Eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia e que chocam o País", declarou numa sala da Granja do Torto, cercado por toda sua equipe ministerial. Depois, em 8 de novembro, em entrevista dada no programa Roda Viva, da TV Cultura, o presidente explicou que se sentia traído devido à conduta inadequada por parte de companheiros de seu partido. "Eu disse que me sentia traído porque eu sei o que passei para criar esse partido. (...) Eu fiz a campanha de 1982 vendendo camiseta. Eu anunciava no palanque para comprar camiseta para poder financiar a minha campanha. Por que eu fui traído? Porque alguns companheiros tiveram um comportamento que não se coadunava com a história do PT", declarou na entrevista. Mesmo assim, evitou apresentar nomes de traidores para, mais uma vez, poupar aliados.