Título: Morales visita em Cuba o ídolo Fidel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2005, Internacional, p. A10

O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, chega hoje a Cuba em sua primeira viagem internacional após o triunfo nas eleições do dia 18. Morales se reunirá com o líder cubano, Fidel Castro, de quem é admirador declarado, antes de retornar para seu distrito natal de Orinoca, no centro da Bolívia. Morales passará o Ano-Novo em território boliviano. Na terça-feira, inicia uma nova viagem internacional, para a Espanha, França, Holanda, África do Sul, China e Brasil - onde chegará no dia 13 para uma reunião com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. A posse está marcada para o dia 22. A visita a Fidel em Cuba tem um significado simbólico em meio aos sinais conciliação que Morales emitiu nos últimos dias a banqueiros, empresários e líderes políticos defensores da autonomia de regiões bolivianas - principalmente do Departamento de Santa Cruz, o mais rico e desenvolvido do país. Embora tenha moderado seu discurso e prometido segurança econômica, respeito à propriedade privada e concessão de um certo grau de autonomia aos departamentos, Morales se reúne com Fidel para deixar claro sua posição de líder "antiimperialista" e "antineoliberal" que reforçou durante a campanha eleitoral.

Com essa retórica, Morales obteve 54,1% dos votos nas eleições presidenciais, conquistando uma arrasadora e surpreendente vitória já no primeiro turno das eleições. As pesquisas de intenção de voto lhe davam uma liderança de não mais de 34% - o que levaria a decisão para um segundo turno, no Congresso, entre ele e o segundo candidato mais votado, o conservador Jorge Tuto Quiroga.

Apenas horas depois de as autoridades eleitorais terem confirmado sua vitória, Morales enviou uma mensagem a Cuba na qual prometeu postar-se ao lado de Fidel em sua "luta contra o imperialismo" e pediu aos EUA que levantem o embargo econômico que o governo americano impõe a Cuba há 45 anos. "Agora tenho a oportunidade de estar junto a ele nesta luta, em busca de paz com justiça social", disse. Na mesma mensagem, o presidente eleito convidou Fidel para a cerimônia de posse em La Paz. Desde 2002, Morales esteve em Cuba em quatro ocasiões - a última, em maio, quando foi operado do joelho.

Durante a campanha, Morales gostava de se descrever como "um pesadelo para os EUA". Ele defende a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), uma iniciativa de integração latino-americana liderada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, que se contrapõe à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) - impulsionada pelo governo americano. A aproximação com Fidel e Chávez levantou a desconfiança dos EUA de que a campanha eleitoral de Morales tenha recebido assessoria e ajuda financeira de Cuba e da Venezuela. Morales nega essa acusação.

SEM 'COCA ZERO'

Ontem, na área do Chapare, perto de Cochabamba, Morales fez um discurso para cerca de 20 mil camponeses, prometendo-lhes combater o narcotráfico de cocaína sem ampliar as restrições às plantações de coca. "Não haverá programas de coca zero, isso acabou", declarou. Estima-se em 27 mil hectares a área de cultivo de planta de coca na Bolívia, dos quais apenas 12 mil são legais. O controle dessas plantações é o principal item da agenda da diplomacia dos EUA na Bolívia.