Título: Dólar fraco, prestações. E o turista lota os vôos
Autor: Mariana Barbosa e Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2005, Economia & Negócios, p. B6

O aumento da procura por passagens no fim do ano obrigou as companhias aéreas a colocar vôos extras de madrugada e a deslocar aviões de destinos de negócios para regiões turísticas. Em operadoras como a CVC, a oferta de pacotes aumentou 20% ante 2004. Mesmo assim, em muitos roteiros a procura é maior que a oferta. O pagamento em diversas prestações sem juros e o dólar barato estimularam as viagens para o exterior, os cruzeiros marítimos pela costa brasileira e os roteiros para o Nordeste.

A Gol, que este ano já opera com oferta de assentos cerca de 47% maior que em 2006, pôs seus aviões para voar de madrugada. De meados de janeiro até 6 de março, a empresa está oferecendo oito novos vôos para o mercado doméstico. E, de olho no turista argentino, de 5 de janeiro a 18 de fevereiro colocará dois vôos extras por dia, durante seis dias da semana, entre Florianópolis e Buenos Aires.

A TAM, cuja oferta de lugares hoje é 37,6% maior que há um ano, está incrementando sua oferta em mais 10%. Para tanto, reduziu as freqüências nas rotas em que se viaja a negócios, como São Paulo-Rio e São Paulo-Brasília, e aumentou a oferta para o Nordeste. Os novos vôos, ligando São Paulo e quatro capitais do Nordeste sem escalas, serão operados até 06 de março de 2006.

Os aviões estão levantando vôo praticamente lotados, seja para o Brasil ou o exterior. De janeiro a novembro, a taxa de ocupação média de assentos foi de 70% nos destinos nacionais e de 76% no internacional, desempenho considerado excelente. Para as férias, as empresas prevêem ocupação ainda maior.

Dentre as empresas internacionais, as taxas de ocupação também estão batendo recordes. Na Air France, durante diversos dias de janeiro só há lugar disponível na primeira classe. E nem sempre. A empresa estima que a ocupação neste verão supere em pelo menos um ponto porcentual a de 2004, que foi elevada. A taxa deverá atingir 87% em dezembro e 91% em janeiro e fevereiro.

"Desde o início do ano o mercado vem se recuperando com a ajuda do dólar", diz José Eduardo Barbosa, diretor da Flot. Ele lembra que um pacote de uma semana para o Caribe custava US$ 1.500 (R$ 4,23 mil) no fim de 2004 e hoje custa R$ 3.6 mil, parcelado em quatro vezes.

Para os Estados Unidos, apesar da dificuldade do visto, a procura é grande. Suas vendas em dezembro estão 15% maiores que as mesmo período do ano anterior. "Só não vendemos mais por causa do processo demorado para o visto", diz o diretor da Agaxtur, Aldo Leonel Junior. "Parece que ir para a Disney voltou à moda e a procura por pacotes para Nova York aumentou 50% este ano com o dólar mais baixo."

Além dos Estados Unidos, Argentina e Chile estão na lista dos destinos mais procurados para férias. A Agaxtur, que vende em até cinco vezes sem juros, no caso de Buenos Aires está parcelando em dez vezes por causa da concorrência entre operadoras.

Até mesmo a Varig, em fase de recuperação judicial, conseguiu remanejar a frota para ampliar a oferta em quase 10%. A empresa quase dobrou a oferta de assentos para Miami e Nova York, com vôos extras até o início de março. "A resposta tem sido maravilhosa: os vôos estão com aproveitamento ótimo", diz o diretor de Planejamento da Varig, Luiz André Patrão.

A CVC teve aumento de 20% na venda de pacotes nesta temporada em relação a idêntico período em 2004. "Aumentamos a oferta na temporada de férias de 270 mil lugares em 2004 para 350 mil este ano", diz o vice-presidente da empresa, Valter Patriani. Para os cruzeiros marítimos, com pacotes de seis noites com preços entre US$ 620 e US$ 850, na faixa de cabines mais baratas, também é difícil encontrar lugar. "Os brasileiros descobriram os cruzeiros".