Título: Capital estrangeiro domina as exportações brasileiras
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que entre 60% e 70% das exportações brasileiras sejam feitas hoje por empresas de capital estrangeiro. "Isso mostra o tamanho da nossa dependência em relação ao nível de atividade da economia mundial", disse o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro. O aumento da participação dos estrangeiros nas exportações, segundo o dirigente da AEB, começou a se intensificar a partir dos anos 90. "É uma conseqüência direta das privatizações e do processo de abertura econômica", comentou.

O último levantamento feito pela associação indica que a participação dos estrangeiros é mais concentrada nas vendas de produtos manufaturados. "Nas vendas de produtos com maior valor agregado, as empresas de capital externo têm participação muito maior que as brasileiras", observou.

As exportadoras com controladores de capital nacional ainda mantinham um certo equilíbrio nas vendas de commodities para o exterior. "Mesmo aí, a participação dos estrangeiros já é grande", disse Castro.

O vice-presidente da AEB lembrou que as exportações de soja são quase totalmente controladas por grandes empresas multinacionais. "Temos a presença da Cargill e da Bunge, que são grandes multinacionais", lembrou.

Os estrangeiros, segundo Castro, ainda não entraram em setores onde há forte presença de pequenas e médias empresas. "Não interessa ao capital externo comprar pequenas empresas. O interesse deles é pelos grandes conglomerados", disse. O setor de venda de calçados para o exterior, de acordo com o dirigente da AEB, é um que, por esse motivo, continua sendo controlado por brasileiros.

A participação dos estrangeiros nas exportações brasileiras, na visão do vice-presidente da AEB, tende a aumentar nos próximos anos. "É difícil fazer uma projeção sobre o que acontecerá no futuro, mas não vejo tendência de reversão desse processo no curto prazo", comentou.

Ele disse que só neste ano cerca de 1 mil empresas brasileiras de médio e pequeno porte deixaram de exportar em decorrência da taxa de câmbio desfavorável (real valorizado). "Esse número poderá chegar a 500 no próximo ano", previu. Para o vice-presidente da AEB, essas unidades de produção controladas por brasileiros poderão acabar sendo vendidas a estrangeiros.

MODELOS

Na opinião do dirigente, o governo deveria seguir os modelos adotados em países como a China e a Coréia do Sul. "Esses países fizeram grandes investimentos em educação e isso fez com que pudessem ter acesso a uma tecnologia de última geração", comentou.

As grandes empresas exportadoras desses países, segundo o vice-presidente da AEB, são nacionais. "A Hyundai é uma grande exportadora e é, ao mesmo tempo, coreana', lembrou.

A nacionalização das exportações, segundo o vice-presidente da AEB, ajudaria o Brasil a ficar menos dependente da conjuntura econômica internacional.