Título: Consumidor ainda prefere álcool, mas está preocupado
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/12/2005, Economia & Negócios, p. B12

Os sucessivos aumentos do preço do álcool têm deixado o consumidor paulistano indignado, mas a opção pelo combustível ainda prevalece junto aos donos dos carros flex, que aceitam tanto álcool quanto gasolina. Em todo o Estado de São Paulo, o preço do litro do álcool varia de R$ 1,089 a R$ 1,730, segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ao longo do ano, o aumento chega a 70%. O taxista Wilson da Silva é um dos que ainda não abriram mão do álcool, mas tem rodado a cidade em busca de preços mais acessíveis. Ontem, ele saiu do centro da cidade e esperou 15 minutos na fila para abastecer em um posto da zona Norte, onde o álcool estava a R$ 1,29. "Ainda mantenho a opção pelo álcool, pois tem postos que estão segurando essa faixa de preço. Mas já vi posto que mudou o preço do álcool quatro vezes só nesta semana", afirma. O taxista roda em média 100 quilômetros por dia e diz que, se o álcool continuar subindo até maio, como o governo prevê, vai passar a colocar gasolina. "Se o álcool encostar nos R$ 2, mudo para a gasolina, que rende mais", diz.

Para o corretor de seguros Robson Morais, o aumento do álcool foi "brutal". Ele comprou seu carro, um Gol flex, em março, pensando na economia que teria ao abastecer com álcool, na época a R$ 0,93 o litro. "Enquanto der, vou manter o álcool, mas se subir mais, vou usar gasolina", diz.

Arrependido mesmo está Antonio Nogueira, gerente de um posto de gasolina na região oeste da capital. Ele comprou este mês um Voyage 92 a álcool e diz estar "cuspindo fogo" por causa do aumento do álcool. "Tomei um prejuízo de R$ 7 mil". Mesmo acompanhando diariamente as oscilações no preço do combustível, Nogueira acreditou que o governo fosse interferir nos aumentos. "Quando planejei a compra, o álcool estava a R$ 1,16, agora está caminhando para R$ 1,80", diz. "Acreditei que o preço ia cair. Você vê plantação de cana em tudo quanto é canto, carro flex vendendo sem parar. O governo tinha que interferir", critica.

Até o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Gouveia, se sente lesado. "Eu comprei um carro flex e me sinto um bobo", diz. Segundo ele, o argumento dos usineiros de que a alta no preço do álcool é devido à entressafra não se justifica. "A indústria decide o preço e o governo não faz nenhum controle".