Título: Professores das federais encerram greve
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Vida&, p. A16

As 29 instituições ainda paradas devem retornar ao trabalho na 3.ª-feira, após mais de cem dias sem aulas

Os professores desistiram. O comando nacional de greve das universidades federais aprovou ontem um indicativo para que as instituições terminem a greve e voltem ao trabalho a partir da próxima terça-feira. Depois de mais de cem dias de paralisação, os docentes terminam o movimento apenas com o que o governo ofereceu. O indicativo ainda precisa ser aprovado pelas assembléias nas 29 instituições que ainda mantém a greve, mas a tendência é sempre seguir a orientação do comando nacional. Na votação de ontem, nove representantes do comando votaram pelo fim do movimento; dois foram contra. A própria presidente do Andes, o principal sindicato da categoria e que coordenou a greve, Marina Barbosa, afirma que as aulas devem recomeçar na semana que vem, dias antes do Natal.

Há duas semanas, o governo enviou ao Congresso o projeto de lei com as propostas feitas pelo Ministério da Educação (MEC) aos professores e que tinham sido rejeitadas nas três últimas assembléias. Mesmo antes do PL estar pronto, já não havia mais conversas entre grevistas e ministério.

"No momento em que o governo enviou a proposta ao Congresso, vimos que não era mais um projeto do MEC, mas de governo e que nossas investidas para mudá-lo não foram vitoriosas", explicou Marina. "A luta no Parlamento, nesse momento delicado, seria difícil."

O movimento vinha perdendo força nos últimos 15 dias. O primeiro revés foi a decisão dos professores das escolas técnicas e dos servidores das universidades de voltar ao trabalho e fechar um acordo com o governo. Os professores perderam apoio. Depois, várias das instituições em greve começaram a desistir do movimento. Até o início desta semana, 10 já haviam retomado as aulas, deixando apenas 29 das 61 em greve. As maiores, como a Federal de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, não pararam em nenhum momento.

"Com o envio do PL ao Congresso, os professores viram que a proposta do governo é concreta, objetiva e responsável. Daí a decisão de retomar as atividades", disse Ronaldo Teixeira, secretário-executivo adjunto do MEC. O governo vai gastar R$ 650 milhões a mais na folha de pagamentos a partir de 2006 apenas com os professores.

A proposta do MEC concede aos professores um reajuste médio de 9,25% a partir de janeiro, através de aumentos na Gratificação de Estímulo à Docência (GED) e nos acréscimos recebidos pela titulação (mestrado ou doutorado). Cria, ainda, mais uma classe de professor, a de associado, que permitirá promoções e aproxima o valor da GED de aposentados e professores da ativa.

O Andes queria um reajuste linear de 18% no salário-base e a incorporação no salário de duas gratificações, uma delas a GED. O custo total da proposta era de R$ 1,3 bilhão.

Nos próximos dias, os conselhos acadêmicos de cada instituição vão definir o cronograma de recuperação das aulas.