Título: 'Falta agora ficarmos livres da ocupação'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Internacional, p. A12

O iraquiano Majeed votou numa lista que reúne tecnocratas e moderados Amjad Majeed

Como outros iraquianos, eu esperava ansiosamente por este momento histórico que representa uma reviravolta contra o terrorismo e o sectarismo, além de segurança, unidade e soberania do governo. É um sentimento novo e interessante o de poder escolher os próprios dirigentes. Fui com minha mãe e minha irmã ao centro eleitoral. Vi ruas cheias de eleitores. Havia crianças também, muitas jogavam futebol. Essas imagens davam idéia de segurança. Tudo parecia amistoso e silencioso, diferente das duas últimas vezes. Isso aconteceu devido à ampla participação da maior parte dos partidos que boicotaram as últimas eleições. Uma coisa que chamava a atenção era a ausência de patrulhas americanas. Só havia veículos da polícia e do Exército iraquianos. Isso me deixou alegre, pois as forças iraquianas têm condições de cuidar de toda a segurança sem a necessidade da presença dos americanos, que sempre passam um sentimento de tensão.

Cheguei ao centro eleitoral, peguei a cédula. Votei no partido que reúne tecnocratas, islâmicos moderados e seculares, ou seja, mais ou menos como está composto o Iraque hoje.

Isso vai permitir que levem em consideração na hora de governar a variedade étnica do povo e adotem decisões neutras.

Compreendi o sentido da democracia hoje ao escolher livremente o que julgo ser certo. Ao contrário da época do ditador Saddam Hussein, ninguém pode impor nada. Somos tratados de forma civilizada.

A coisa mais importante que nós iraquianos esperamos do próximo governo é criar um clima de segurança, acabar com as mortes de pessoas inocentes e reprimir duramente os terroristas e quem os apóia. Apesar de tudo, eu e a maior parte das pessoas que conheço estamos esperançosos com os resultados das eleições. Mesmo se algumas pessoas com currículo ruim estiverem no próximo governo, serão obrigadas a cumprir nos próximos quatro anos o que prometeram ao povo. Outra coisa importante é a nova Constituição, que não vai dar imunidade aos governantes que cometerem erros sérios contra o povo.

Considero as eleições, realizadas sob circunstâncias difíceis, uma experiência bem sucedida se a compararmos a pleitos em outras partes do mundo. Por isso, espero ansiosamente pelo dia em que possamos governar e controlar nosso país e, dessa forma, ficarmos livres da ocupação.