Título: CPI rastreia R$ 377 mi de conta suspeita de Duda Mendonça
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2006, Nacional, p. A5

A CPI dos Correios rastreou R$ 377 milhões em operações suspeitas na conta de uma das empresas do publicitário Duda Mendonça. São misteriosas transferências bancárias, assinaladas apenas como "payments" (pagamentos, em inglês) nos sigilos bancários do publicitário. Não há informações sobre beneficiários e depositantes do dinheiro. A descoberta consta de um levantamento confidencial da CPI, ao qual o Estado teve acesso. Essas operações começaram em agosto de 2003, quando Duda assinou contrato de publicidade com o Palácio do Planalto. O trabalho dos peritos mostra que a saída de dinheiro como "payment" da conta de Duda costumava coincidir com os depósitos do Palácio do Planalto e da Petrobrás, com os quais ele tinha contrato.

Pelas características das operações, técnicos do Banco Central suspeitam que parte dessa quantia seja de remessas de dinheiro para o exterior, embora não descartem outra explicação para as transações.

Para avançar na investigação, a CPI vai pedir ao Banco Central que determine ao BankBoston, banco onde Duda mantém a conta, um detalhamento dessas operações.

A conta sob suspeita é a 9070504, da Duda Mendonça & Associados Propaganda. Segundo o relatório dos técnicos, essa conta registra 474 operações sob a rubrica "payments", entre 15 de agosto de 2003 e 15 de agosto de 2005. Em números exatos, as transações nesse período de dois anos ficaram em R$ 377.037.457,24.

Os valores individuais das transferências são impressionantes. O levantamento revela que 104 operações envolveram valores acima de R$ 1 milhão. Há também transações menores, algumas de R$ 10 mil.

A maior operação aconteceu no dia 15 de abril de 2004. Os dados bancários mostram que a Duda Mendonça Associados transferiu R$ 12,7 milhões para um beneficiário não identificado via "payments". Como nas demais transações, o BankBoston não informou à CPI nem o nome do banco que participou da transferência. No mesmo dia, por exemplo, a Presidência da República depositara R$ 2,6 milhões na mesma conta, a título de serviços publicitários.

A segunda transação de maior vulto ocorreu em 15 de outubro do mesmo ano. Naquele dia, a empresa de Duda transferiu R$ 10,1 milhões.

Novamente, não há identificação do beneficiário e do banco. Na mesma data e no dia anterior, a Presidência havia feito depósitos na conta da empresa que somavam R$ 5,5 milhões.

As lacunas nos dados bancários de Duda não são exceção na CPI dos Correios. Os técnicos têm encontrado informações incompletas em quase todas as contas - já são 516 - que chegam à comissão. Segundo os peritos, a culpa pelas falhas é dos bancos, que costumam enviar informações "pela metade", na definição de um dos técnicos. O maior problema está nos registros de beneficiários e depositantes. Em quase todos os registros bancários, boa parte das transações aparece sem a correta identificação da origem e do destino do dinheiro.

Procurado pelo Estado, por telefone, para comentar as informações da CPI, o publicitário não retornou as ligações.