Título: Analistas divergem quanto ao futuro das exportações
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

As previsões de exportações para o Brasil este ano vão desde estimativas de pequena queda, conforme analistas de mercado, a projeções de crescimento mais robusto, com vendas no valor de US$ 137,5 bilhões para 2006, 17% acima do valor em 2005, segundo o cenário otimista da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex). A Funcex montou três hipóteses para 2006. O cenário básico, considerado o mais provável, leva em conta exportações brasileiras de US$ 129 bilhões em 2006 e superávit comercial de US$ 42,5 bilhões, muito próximo ao de 2005. Este quadro, mais conservador, não inclui ganhos de preços. Já o cenário otimista inclui ganhos de volumes e preços. Na estimativa mais pessimista, as exportações cairiam para US$ 115,6 bilhões.

Na avaliação da Funcex, contudo, o quadro para o comércio exterior é favorável. A análise leva em conta estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento do comércio mundial de 7,6% em 2006. A estimativa-base da Funcex supera a média do mercado. Na pesquisa semanal do Banco Central (BC) com instituições e consultorias financeiras, a projeção média para o superávit comercial estava em US$ 36,9 bilhões no fim do ano.

Segundo a Funcex, os resultados em 2005 surpreenderam e contrariaram previsões que eram feitas no início do ano. "Exceto em condições absolutamente anormais e inesperadas nos cenários doméstico e internacional, o saldo de 2006 não deverá afastar-se muito do número relativo a 2005", argumenta o economista da entidade, Fernando Ribeiro. Ele explica que a projeção-base para 2006 leva em conta que o Brasil acompanhará o crescimento do comércio mundial.

Para Ribeiro, o Brasil não deverá crescer acima da média global, mas ainda assim o desempenho será razoável. Além disso, o câmbio deverá ficar próximo dos níveis atuais. A estimativa conservadora da fundação contempla um avanço de 8,9% em valores nas exportações e de 17,3% para as importações, o que reduziria levemente o superávit comercial.

NO TETO

Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida, entretanto, um crescimento perto de 10% para as exportações pode ser considerado um "feito", dentre outros motivos porque os preços internacionais não devem subir.

O sócio-diretor da MS Consult, Fábio Silveira, tem avaliação semelhante. Silveira prevê que as exportações deverão ficar ao redor de US$ 116 bilhões. Apesar do pequeno recuo, ele considera que o resultado vai ser bom, quase no mesmo nível de 2005. Ele também avalia que o País deverá enfrentar uma redução, ainda que discreta, nos preços das commodities, que, em grande parte, "já bateram no teto".

O cenário de 2005, na opinião de Silveira, foi mais favorável. Ele acredita que os produtos básicos exportados pelo Brasil tiveram níveis elevados de preços durante o ano. Além disso, o comércio internacional estava dinâmico e o País conseguiu aumentar os volumes exportados.

Apesar da visão de Silveira, outras entidades mantêm projeções mais elevadas, caso da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que estima exportações de US$ 130 bilhões para 2006. Para a CNI, o superávit chegará a US$ 43,5 bilhões.

Já o Grupo de Conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ prevê vendas externas de US$ 127 bilhões para o ano que vem, com um saldo de US$ US$ 38 bilhões, pouco acima da estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para 2006: vendas externas de US$ 123,4 bilhões e saldo comercial em US$ 35,8 bilhões. Já a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta crescimento de 2,8%, com exportações de US$ 122,1 bilhões em 2006.