Título: Economia global pode desacelerar este ano
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

O ritmo de crescimento da economia global deve perder fôlego neste ano. Segundo relatório do UBS Wealth Management (unidade do banco suíço UBS), 2006 será marcado por uma forte desaceleração mundial e por retornos de investimentos abaixo da média. Apesar disso, o Brasil se beneficiará das baixas taxas globais. "Mesmo com as incertezas políticas, o País continua sendo a maior aposta do UBS entre os emergentes", afirma o estrategista-chefe do banco no Brasil, Paulo Tenani. Para o mundo, no entanto, o cenário não é otimista. Uma explicação está no consumo dos Estados Unidos - até agora o principal motor do crescimento -, que pode estar prestes a recuar. Conforme o relatório Perspectivas para 2006, divulgado ontem, o consumo privado será respaldado pelo crescimento do emprego aliado à elevação de salário.

Mas a taxa de poupança das famílias americanas já estava negativa no terceiro trimestre de 2005. "Ou seja, a renda já não era suficiente para financiar os gastos e as famílias tiveram de recorrer à poupança", descreve o relatório. Além disso, o fluxo de renda criado pela alta do preço dos imóveis residenciais provavelmente se estancará.

Por causa disso, a expectativa do banco é que a taxa de juros dos EUA seja elevada para 4,5% neste mês e permaneça neste nível durante boa parte do ano. A inflação deverá subir dos 3,2% para 3,4%.

De acordo com o UBS, a economia americana, que cresceu 4,2% em 2004 e estimados 3,4% em 2005, pode fechar 2006 em 3%, bem abaixo da média histórica, afirma Tenani. "Nem mesmo a Ásia, a região mais dinâmica do mundo, conseguirá descolar-se desta tendência de desaceleração, já que o comércio interasiático é composto por produtos intermediários e não finais. Portanto, ainda são muito dependentes do ciclo econômico americano", completa o estrategista do UBS.

Na China, no entanto, o 11º Plano Qüinqüenal, que também inclui os Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim, deve compensar em grande parte o menor crescimento proveniente das exportações. Com isso, deve manter a taxa de crescimento entre 7,5% e 9%.

Segundo Tenani, com o mundo em desaceleração as taxas de juros globais permanecerão baixas, o que reforça o otimismo com o Brasil. "Com a taxa de dez anos dos EUA abaixo dos 5%, há uma forte tendência para o risco Brasil ceder abaixo dos 250 pontos, derrubando a taxa de juro real de equilíbrio e beneficiando a dinâmica da dívida pública." Apesar disso, o relatório recomenda a investidores mais atenção para o risco e usar seletividade.