Título: Esquema nos Correios vem de 2002, sugere fita
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A10
Sub-relator da CPI exibe vídeo que reforçaria tese de propina na estatal
O sub-relator de Contratos da CPI dos Correios, José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), exibiu ontem trechos de uma fita de vídeo que, segundo ele, reforçam a tese de pagamento de propinas a funcionários dos Correios e da empresa VarigLog em troca da primazia das empresas de transportes Beta e Skymaster nos contratos com a estatal. Outro trecho sugere sonegação fiscal de 50% dos tributos que deveriam ser pagos supostamente pelas duas transportadoras. A fita foi exibida durante depoimento do dono da Beta, Ioannis Amerssonis, à sub-relatoria. No início do depoimento, Amerssonis disse nunca ter participado de reuniões na Beta em que se falasse em "acerto" com os Correios ou com a VarigLog. O empresário negou que sua empresa tenha pago propina para se beneficiar de contratos. Segundo Cardozo, a fita foi gravada em 2002, mas não se sabe o mês.
O cenário é o escritório do então presidente da Beta, Antônio Augusto Morato, na sede da empresa, em São Paulo. Além de Morato, estão na sala Ioannis Amerssonis e um funcionário da área de finanças identificado como William. Na maior parte do tempo, Morato e William analisam uma planilha de gastos conjunta da Beta e da Skymaster e Amerssonis observa, fazendo alguns comentários. O presidente e o funcionário discutem quanto caberia a cada empresa em pagamentos e previsões de faturamento com contratos dos Correios.
Segundo Cardozo, a planilha analisada na reunião é semelhante à que está em poder da CPI, de abril de 2002, em que são relacionadas as contas da Beta e da Skymaster. Dois itens chamaram a atenção do sub-relator. O que diz "acerto ECT", no valor de R$ 123.047,02, indicando "2,5% sobre faturamento líquido" e, abaixo, "acerto VG", que Cardozo identifica como VarigLog, e o valor de R$ 7.794,90 e "comissão de 1,5%".
O sub-relator sustenta que a propina começou a ser paga quando a VarigLog perdeu um contrato com os Correios, em junho de 2001, por não cumprimento dos serviços. No dia seguinte, a Skymaster fez um contrato emergencial com a estatal e, segundo Cardozo, a mesma empresa venceu um pregão dia 24 de dezembro, continuando a prestação de serviços ao correio noturno. "A Beta e a Skymaster tinham um acordo de dividir os contratos com os Correios. O mensalão foi pago à estatal e à VarigLog para garantir a manutenção do conluio", diz Cardozo. Em nota, Morato afirma que "o diálogo não traduz irregularidade alguma". A Skymaster também tem desmentido pagamento de propinas.
Ioannis Amerssonis: O que eles estão mandando tá dando setecentos e poucos?
William: É, do Correio. Setecentos e trinta e quatro mil.
Amerssonis: E pela nossa
conta?
William: Nossa prévia era nove cinco três. Cento e vinte paus é acerto do Correio, né? E tem mais trinta mil... Vinte e oito mil que é da Varig.
Antônio Augusto Morato: Varig...
William: Então pode ser a diferença, viu, Antônio?
Morato: Vamos ver se é essa a diferença.
William: Tá.
Amerssonis: Tá descontando tudo?
William: Não, cinqüenta por cento... 120 mil é sonegado.
Amerssonis: Ah... os 120 mil?
William: É, é...
Morato: É 240, exatamente...
William: E da Varig..
Morato: Da Varig, já pagamos um mês só da Varig, anota isso aí...
William: Tá...
Morato: Escuta, isso começou dia vinte e quatro de dezembro... foi no dia que nós pagamos cinco... foi dia vinte e cinco, vinte e seis dezembro, encerrou o mês de dezembro... em janeiros nós já pagamos no cheio.
William: Agora, janeiro não descontou nada?
Morato: Vamos pôr a vinte e cinco por cento...
William: Que é a taxa que se cobra.
Morato: (...) Vinte e cinco por cento.