Título: Centrais agora não admitem mínimo menor do que R$ 350
Autor: Isabel Sobral, Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A9

Rodada de negociações entre sindicalistas e ministros acaba sem acordo

Após nova rodada de discussões ontem sobre o reajuste do salário mínimo, permaneceu o impasse entre o governo e as centrais sindicais. Os sindicalistas, defensores de que o mínimo suba dos atuais R$ 300 para R$ 400 e que haja a correção de 13% na tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), disseram que agora não aceitam menos do que R$ 350. Esse valor circulou nos bastidores políticos esta semana como a proposta defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Novo encontro entre governo e sindicalistas foi marcado para a próxima quarta-feira.

"Não há ainda uma proposta do governo", afirmou o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, após participar da segunda reunião com representantes das seis centrais sindicais. Também participaram os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do Planejamento, Paulo Bernardo. Segundo Marinho, os cálculos do governo apontam para um salário de até R$ 340.

Na conversa com os jornalistas, porém, o ministro se contradisse e admitiu a possibilidade de se chegar aos R$ 350. "Estamos trabalhando e com muito esforço e vontade política dá para chegar a isso."

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, contou que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, apresentou uma sugestão de se conceder um aumento menor para o mínimo em 2006 e, em troca, de dar um desconto no recolhimento da contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para trabalhadores que ganham até um salário mínimo.

Dessa forma, aumentaria a parcela líquida dos salários mensais dessa faixa. Hoje, esses contribuintes recolhem 7,65% do salário à Previdência e a sugestão seria de reduzir a alíquota para 2,6%. "As centrais não concordaram porque achamos isso muito complicado para explicar à população", afirmou Paulinho. Um dos argumentos do governo para que o reajuste seja moderado é justamente as contas da Previdência Social, que terão forte impacto com o novo mínimo.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, antecipou que os sindicatos não vão abrir mão de pressionar por um valor entre R$ 350 e R$ 400. Aliado do governo Lula, fez questão de comemorar que a discussão esteja partindo de valor superior aos R$ 321 previsto na proposta orçamentária encaminhada ao Congresso. Segundo ele, o valor de R$ 350 representa 11% de aumento real (acima da inflação).

Marinho defendeu o governo da crítica dos sindicalistas de que a gestão está longe de cumprir a promessa de campanha de dobrar o valor do mínimo. "Se for analisado o poder de compra, o compromisso está sendo atingido", disse.