Título: Cartas marcadas no amigo secreto
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A7

Mesmo à distância, o cantor e compositor Chico Buarque foi a grande atração da festa de amigo secreto dos senadores, na residência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quarta-feira à noite. Quase todo mundo deu e recebeu, de presente, a coleção de DVDs de Chico. Os gaúchos levaram vinhos, muitos vinhos. A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) ganhou uma faca tipo peixeira, que é instrumento de mulher nordestina brava como ela. Brincalhão, como sempre, Heráclito Fortes (PFL-PI) foi o terror da festa. Anunciou que presentearia seu "amigo" com uma coleção de CDs de música gospel gravada pelo senador Magno Malta (PL-ES). Uma raridade, pois desde que virou político Malta pouco tem exercitado a voz. E, suprema maldade, deram um jeito para que no sorteio o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, tirasse sua colega Ideli Salvatti, do PT, ambos de Santa Catarina.

A salvação foi que Ideli teve de viajar para São Paulo e não pôde ir à festa - embora garantisse ontem que não teria problemas com Bornhausen. Ambos, aliás, vira e mexe acabam se aliando no Senado quando se trata de interesses de seu Estado.

O sorteio que escolheu Heloísa Helena para amiga de Iris Araújo (PMDB-GO) também foi arranjado. Segundo um senador, todos os papeizinhos dados a Iris tinham o nome da presidente do PSOL. Motivo: era dela, de antemão, a imensa peixeira.

O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) sofreu com o presente que ganhou de seu colega Sérgio Zambiazi (PTB-RS): um pacotaço de vinhos. Ao deixar a casa de Renan Calheiros, teve de carregar um peso ao qual não está acostumado. Quase deixou o presente cair no chão.

Renan tentou evitar que a política partidária tomasse conta dos "debates". Tanto é que proibiu a distribuição de bonezinhos do PMDB que chegaram à festa. Isto é, tentou proibir. O líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), pôs um boné em cada cabeça de senador e ainda garantiu uma foto, para a posteridade. Nomeado mestre de cerimônias, toda vez que tinha de ocupar o lugar de um faltoso, vestia o boné peemedebista.