Título: No Comselho de Ética, indignação e desânimo com o resultado do plenário
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A6

O Conselho de Ética da Câmara se reuniu ontem em clima de indignação e desânimo, depois que o plenário da Casa rejeitou o parecer que pedia a cassação do mandato do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG). O resultado favorável ao deputado - 250 votos contra 162 - acabou desautorizando o trabalho do colegiado, que havia aprovado em votação aberta a cassação, por 12 votos contra 2. "Quebrou-se uma tradição", lamentou o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP). Não é regra na Casa, mas é comum que pareceres aprovados por comissões técnicas sejam seguidos pelo plenário.

Integrantes do Conselho criticaram duramente o resultado. "Começou o valerindulto de Natal e os outros vão querer se beneficiar mesmo após os festejos natalinos", acusou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), relator do processo de cassação do deputado Wanderval Santos (PL-SP).

"Foi uma decisão insensata, incoerente", afirmou Alencar. "Foi a negação absoluta do que a gente fez aqui. Quem perde é a democracia e o parlamento", completou.

O deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) atribuiu o resultado do plenário à atuação do governo. "Não foi apenas o corporativismo que livrou o deputado. Foi a demonstração inteligente do governo dentro de um ato político perfeito", avaliou Thame.

"Esse é um precedente para salvar o presidente Lula. É para dizer que crime eleitoral não merece pena e deve ser perdoado", disse o tucano, que é relator do pedido de cassação do deputado Josias Gomes (PT-BA).

Thame afirmou que o conselho vai continuar cumprindo com o seu papel, mas prevê que alguns conselheiros poderão, a partir de agora, "colocar a cabeça para fora d'água" e votar contra pareceres que sejam pela cassação.

"Será uma tragédia se ficar configurado um acordo entre os partidos para livrar os deputados", destacou o deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), relator do pedido de cassação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP).

Para o deputado Nelson Trad (PMDB-MS), relator do pedido de cassação do deputado Roberto Brant (PFL-MG), o plenário da Câmara mandou dois recados à sociedade. "Primeiro, que caixa 2 não é crime. Segundo, que boca de urna também não. Virou uma esbórnia."

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o relator do processo de José Dirceu (PT-SP, afirmou que, com a convocação extraordinária, o Congresso pagará salários extras para absolver deputados acusados.