Título: Oposição diz que vitória de Queiroz é parte de acordão
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A6

Avaliação é que foi aberta a "porta da esperança" para os deputados acusados de receber recursos do chamado valerioduto

A absolvição do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) foi um sinal de que a Câmara pode livrar outros deputados que enfrentam processo de cassação. Segundo líderes da oposição, o episódio revelou um acordão entre os partidos acusados de terem se beneficiado do suposto esquema do mensalão. Queiroz foi o primeiro deputado a ser julgado da lista de 12 processados por causa do mensalão. O parecer do Conselho de Ética que pedia sua punição foi derrotado anteontem à noite: 250 deputados votaram contra cassá-lo e 162 a favor. Isso animou deputados acusados. "Abriu-se a porta da esperança", era o comentário dos que acompanharam a votação. O próprio presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), admitiu que agora o plenário pode livrar alguns, e citou João Paulo Cunha (PT-SP) e Roberto Brant (PFL-MG).

"É claro que estou mais aliviado. Isso demonstra que a Casa está construindo um conceito", disse um deputados que responde a processo. Para ele, o caso de Queiroz reunia todos os símbolos do escândalo: o deputado admitiu que mandou o assessor do partido em Minas, presidido por ele, pegar R$ 350 mil da conta da SMPB, agência de publicidade de Marcos Valério Fernandes de Souza. Contou ainda que recebeu R$ 102 mil da Usiminas com a intermediação da SMPB. Desse valor, R$ 50 mil foram depositados na sua conta bancária. Em sua defesa, ele afirmou que não embolsou o dinheiro, que foi todo usado em campanhas de candidatos do PTB.

ARTICULAÇÃO

Para livrar Queiroz, uma grande articulação política foi montada. Somaram-se a conveniência dos deputados acusados de diferentes partidos, a pressão regional e o corporativismo. Deputados de PP, PTB, PL e PT, principalmente, trabalharam intensamente pela absolvição do colega, em troca de verem absolvidos seus parlamentares que respondem a processos de cassação. Além disso, a influência de Queiroz na política de seu Estado levou muitos políticos mineiros a defendê-lo.

A atuação do ministro dos Transportes, Walfrido Mares Guia, também ajudou. Na véspera do julgamento no plenário, o ministro despachou com quase 40 deputados na sala da Comissão de Defesa do Consumidor, que é presidida pelo deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), enquanto, na sala ao lado, Queiroz pedia votos aos colegas. Ontem, Mares Guia comemorava. "O Congresso fez justiça. Eu o conheço (a Queiroz) há 35 anos e sei que ele não tirou nenhum tipo de vantagem de nenhuma natureza", afirmou.

"Ficou claro que houve um acordão entre os partidos acusados e o governo para dizer que não houve o mensalão e absolver os deputados", acusou o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP). "Cabe agora à gente destruir essa grande pizza."

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), afirmou que a "porta da esperança" dos deputados acusados vai se fechar graças à pressão da sociedade e da imprensa. "Quem imagina que haverá jurisprudência se esquece de que desse jogo participam a sociedade e a mídia."