Título: Para ele, escândalos foram 'saraivada de infâmias'
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A4

Segundo Lula, uma delas é a acusação de que Alencar obteve empréstimo irregular

Um dia depois de divulgada pesquisa CNI/Ibope indicando a liderança do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), na disputa presidencial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou da "saraivada" de críticas de "infâmias" contra seu governo. Foi mais uma reação do presidente à exploração política dos escândalos de corrupção investigados no Congresso. Na avaliação do Ibope, as denúncias levaram Lula a ficar em desvantagem em relação a Serra. Segundo o presidente, uma das "infâmias" é a denúncia feita contra o vice-presidente José Alencar de que sua empresa, a Coteminas, paga juros de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abaixo do mercado, apesar de o vice viver criticando as altas taxas.

"Eu poderia dizer que é uma infâmia o que fizeram com o nosso vice-presidente da República esta semana. É mais do que uma infâmia. É tentar passar para a sociedade a idéia de que ele não é o que ele é. Eu fiz questão de dizer para a televisão: a Coteminas, como qualquer empresa brasileira, tem direitos de ter acesso aos créditos que todas as empresas têm, nas mesmas bases que todas as empresas têm, sem que isso signifique um único favor", discursou Lula em almoço com oficiais generais das Forças Armadas.

Segundo o presidente, o papel do governo não é dizer o que está "certo ou errado" nas acusações. "Nós achamos que tudo que for levantado de acusação deve ser apurado. E a apuração é o maior atestado de idoneidade que uma pessoa séria e honesta deseja que aconteça na sua vida." Para o presidente, não há "nada pior" do que tentar evitar uma investigação.

"Se alguns imaginaram que o presidente da República iria tomar atitudes que pudessem cercear qualquer investigação, para se fazerem de vítimas, não haverá vítima por falta de investigação." Para Lula, tudo que "for verdade vai aparecer como verdade e o que for mentira vai aparecer como mentira". "Um belo dia o povo brasileiro saberá fazer juízo de valor."

Aos oficiais militares, o presidente prometeu que trabalhará para reaparelhar as Forças Armadas. "Nós temos que tomar uma decisão, num curto prazo. Eu digo curto prazo, porque meu mandato termina no dia 31 de dezembro (de 2006)." Segundo ele, as Forças Armadas precisam de ter condições de fazer a segurança das fronteiras do País. "Nós todos esperamos que nunca tenhamos um inimigo externo e, se Deus quiser, as Forças Armadas nunca mais vão se preocupar com inimigos internos."