Título: Força de Serra assusta Planalto e Lula pode anunciar candidatura já
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Nacional, p. A4

Presidente resiste, por enquanto, a apelo de auxiliares para se lançar agora e acha eles estão apressados demais

Causou um choque no Palácio do Planalto e no PT a pesquisa CNI/Ibope indicando, pela primeira vez, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perderia para o prefeito de São Paulo, o tucano José Serra. O próprio presidente ficou irritado com o resultado e, nas conversas com assessores, atribuiu a queda de sua popularidade à forma como a oposição tem divulgado denúncias contra o governo. Ministros próximos ao presidente - como Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Jaques Wagner (Relações Institucionais) - avaliam que é preciso reagir rapidamente. E já sugeriram a Lula que anuncie logo a decisão de disputar a reeleição.

Eles crêem que os tucanos Serra e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, começam a crescer nas pesquisas porque suas candidaturas estão postas, enquanto Lula mantém em dúvida se disputará a reeleição. O presidente, porém, resiste à idéia de se lançar agora. "Vocês estão querendo apressar demais", teria dito, diante dos apelos dos auxiliares.

Ainda assim, o PT vai encarregar uma equipe de analisar o calendário eleitoral e planejar da campanha da reeleição. Para dar a largada, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, deve se reunir com Lula até segunda-feira.

Em público, Lula não quis comentar os resultados da pesquisa. Em duas oportunidades, repórteres lhe perguntaram sobre o assunto e ele se fez de surdo. Em outros momentos, demonstrou impaciência com os jornalistas.

Durante a visita dos cantores do Coral Natalino da Universidade de Brasília (UnB), o presidente chegou a se divertir vestindo um gorro de Papai Noel. "Presidente, faça a sua mensagem de Natal", gritou um jornalista. "Não é hora de falar em Natal. Ainda estamos muito longe do Natal", respondeu Lula.

Sem um analista oficial de pesquisas, pois não conta mais com o publicitário Duda Mendonça, o Palácio do Planalto valeu-se de estudos de amadores do próprio governo para destrinchar o trabalho do Ibope. Eles concluíram que a situação do presidente não é de todo ruim. Por exemplo: 55% dos entrevistados disseram achar que o ano que vem será muito bom, contra 52% da pesquisa de novembro. Isso, na opinião dos ministros, deixa claroue a situação pode mudar.

"Não há como comemorar esse resultado", disse o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Chinaglia foi um dos que, na medida do possível, procuraram ver nas entrelinhas da pesquisa sinais mais sólidos do que está acontecendo com a imagem do governo e de Lula. "Acho que o fato de o noticiário se concentrar na crise - e o que de bom se faz não receber destaque - fez a avaliação negativa chegar ao presidente", disse Chinaglia. "Não há dúvidas de que o presidente foi atingido. Nosso desafio agora é encontrar a saída."

Para ele, o reencontro do governo com a opinião pública vai se dar em breve. "Acredito que quando a crise for superada, com a punição de deputados que se envolveram em irregularidades, haverá a recuperação", comentou o líder petista.