Título: Presidente está de 'mãos limpas' agora
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Para analistas, Kirchner vai poder governar sem interferência do FMI

Os analistas afirmaram que o presidente Néstor Kirchner, após anunciar o pagamento da totalidade da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), passa a ter "mãos livres" para implementar a política econômica, sem condicionamentos do organismo financeiro. Desde que tomou posse, a relação de Kirchner com o FMI foi de permanente conflito. O presidente argentino havia deixado claro em diversas ocasiões que pretendia se desvencilhar do Fundo. Segundo ele, o FMI era responsável pela decadência do país. Ontem, voltou a atacar o Fundo, afirmando que o organismo "respaldou fracassos políticos".

Poucos minutos após o anúncio de Kirchner, a ministra da Economia, Felisa Miceli, declarou que a decisão "enquadra-se na recepção positiva da notícia de que o Brasil dispõe-se a pagar a dívida com o FMI".

Felisa sustentou que o Banco Central argentino conta com reservas suficientes para respaldar a política monetária. Seu antecessor, o ex-ministro Roberto Lavagna, que preferia o pagamento gradual da dívida, mudou o discurso e declarou apoio: "É um passo a mais na boa direção".

O presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, Carlos "Chacho" Álvarez, disse que a decisão brasileira de pagar a dívida, somada ao anúncio argentino, mostra que existe "uma política muito sincronizada".

O economista Miguel Bein sustentou que não está preocupado pelo uso das reservas do BC para pagar a dívida, já que "se a Argentina tiver superávit fiscal, as reservas recuperam-se em menos de um ano".

Os rumores sobre o anúncio causaram euforia na Bolsa, que passou de uma queda de 0,3% no meio da tarde para uma alta de 1,9% no fim da jornada.

No fim da tarde, o governo também anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 9,2% no terceiro trimestre. A jornada foi generosa com Kirchner, já que antes do anúncio da dívida, a Câmara de Deputados aprovou o projeto de Orçamento Nacional.