Título: IBGE confirma a queda do PIB
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Economia & Negócios, p. B6

IBGE divulgou o valor em reais do PIB do 3º trimestre, que caiu 1,2%; revisão desse número, só ano que vem

O Produto Interno Bruto (PIB) do 3º trimestre somou R$ 497,5 bilhões, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem. O valor completa os dados econômicos do período - já havia sido apontada queda de 1,2% no PIB ante o trimestre anterior. Os técnicos vão esperar os dados do 4º trimestre para recalcular os valores do 3º, como determina a metodologia do IBGE.

Dos dados divulgados ontem, só o volume de estoques, de R$ 6,06 bilhões de julho a setembro, surpreendeu o mercado, por ser menos da metade do registrado no trimestre anterior: R$ 13,85 bilhões. "No 2º trimestre, a indústria superestimou a demanda. O que ocorreu a seguir foi uma queima de estoques", diz Guilherme Maia, da Tendências Consultoria. Para ele, o que derrubou o PIB foram basicamente a crise de confiança de empresários e consumidores que veio a reboque da crise política e a surpresa do desempenho da agropecuária, mais fraco que o previsto.

O PIB acumulado no ano até setembro é de R$ 1,415 trilhão. O IBGE divulgou também que, no 3º trimestre, os investimentos representaram 20,4% do PIB, ligeiramente menos do que os 20,9% de igual período de 2004. Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, explica que não há como comparar a taxa de investimento com a do 2º trimestre (19,9%) porque, como não é feito ajuste sazonal do levantamento, as distorções específicas de determinados períodos não são eliminadas.

Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), embora o nível de investimento no País ainda esteja muito baixo - há consenso entre economistas de que apenas uma taxa acima de 25% ao ano garantiria crescimento sustentável do PIB em patamar superior a 5% anuais -, é "significativamente superior aos níveis alcançados de 1998 a 2003, quando o investimento chegou a acusar um porcentual tão baixo quanto 17,8% no 3º trimestre desse último ano", como aponta o relatório técnico do Iedi.

Os técnicos do instituto esperam um "aumento marginal" da taxa de investimentos este ano, que deve fechar em 20%, ante 19,6% de 2004. "O Brasil necessitaria de um esforço maior para que, em médio prazo, sua taxa de investimento alcançasse 25% do PIB. Para isso teríamos neste ano que evoluir para, por exemplo, 22% do PIB. Mas as altas taxas de juros que prevaleceram no ano impediram um avanço maior. Por outro lado, o ano eleitoral de 2006, que pode ser acompanhado de instabilidade política, não é favorável ao investimento, de forma que deveremos manter, infelizmente, um patamar próximo de 20%", conclui o relatório.

É um pouco menos do que prevê o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, que na semana passada divulgou o prognóstico de 20,3% para a taxa de investimento de 2005, já assimilando a queda do PIB no 3º trimestre.

Para Guilherme Maia, da Tendências, a queda da taxa básica de juros anunciada quarta-feira, embora modesta, de 0,5 ponto porcentual, pode significar algum impacto no investimento no início de 2006: "Mais importante do que a queda é a confirmação da tendência de que os juros continuarão caindo nos próximos meses, em níveis talvez mais altos. Essa tendência terá um impacto positivo na confiança do investidor".

A pequena desaceleração na taxa de investimento de julho a setembro ante igual período de 2004 ocorreu porque o PIB cresceu a uma taxa superior aos investimentos, explicou Maria Laura Muanis, técnica da coordenação de contas trimestrais do IBGE. No caso da taxa de poupança (24,3% no 3º trimestre deste ano, também menor do que a de 25,4% de igual período de 2004), ela atribui ao crescimento da despesa de consumo. As famílias consumiram mais e sobrou menos dinheiro para poupar. Ela observou que a taxa de poupança do 3º trimestre deste ano foi a segunda maior para o período desde 1995, perdendo só para a taxa do 3º trimestre de 2004.